São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 1997
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MENOS ESCORCHANTES

Apesar da queda nos juros pagos pelos títulos públicos, as taxas de empréstimo cobradas de pessoas físicas e empresas continuam desproporcionalmente altas para uma inflação da ordem de 10% ao ano. A permissão para que os bancos descontem cheques pré-datados, recebendo-os como garantia no adiantamento de crédito, tende a reduzir o elevado custo dessas operações.
Baseado na definição de que os cheques são instrumentos de pagamento à vista e, possivelmente, também interessado em moderar o ritmo de expansão do crédito ocorrido depois da estabilização, o Banco Central vinha resistindo a legalizar o desconto de pré-datados pelos bancos. Por princípio, o possuidor de um cheque tem o direito de receber todo o valor ali grafado, sem qualquer desconto. O acordo de "segurar o cheque" é apenas um compromisso informal.
Mas, na prática, o uso de pré-datados cresceu enormemente com a nova demanda por crédito surgida com a brusca queda da inflação a partir da introdução do real. Até a semana passada, esse volume de cheques era negociado apenas por empresas de factoring, especializadas em descontar esses títulos para o comerciante ou a empresa. Com a entrada formal dos bancos, as taxas de juros dessas operações tendem a cair, facilitando o financiamento do capital de giro.
Ainda assim, as taxas financeiras no Brasil continuam muito elevadas. Os até 10% ao mês que empresas de factoring chegam a cobrar são absurdamente altos (equivalem a 213% ao ano, contra uma inflação anual de 10%). Mas as taxas mensais de 5% (ou 80% ao ano), recentemente anunciadas por alguns bancos, também estão em completo descompasso com a estabilidade monetária.
O aperto de crédito que serviu para moderar o crescimento e assim conter o déficit comercial ainda está presente. Resta saber se o governo manterá a política monetária nos termos atuais, ou se virá a sacrificar novamente o ritmo de atividade para evitar turbulência nas contas externas.

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