São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 1997
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Política industrial ou de desenvolvimento?

EMERSON KAPAZ

O debate atual em torno da necessidade ou não de o Brasil ter uma política industrial está centrado em pontos de vista estreitos, de limitado poder para conduzir o Brasil ao futuro globalizado.
O erro está na expressão, que vincula definitivamente o crescimento econômico e social à implantação de indústrias a qualquer preço, sem levar em conta aspectos relevantes, como as vocações regionais e o envolvimento da sociedade civil na definição do que é melhor para o país.
Não se trata, portanto, de implantar uma "política industrial", mas sim uma "política de desenvolvimento", mais ampla e moderna, que envolva, com a mesma importância, a agroindústria, o comércio e os serviços.
O que deve marcar a política de desenvolvimento é que ela substituirá definitivamente a antiga política industrial.
Hoje, está superado o conceito de intervencionismo do Estado em favor da reserva de mercado para setores privados ou estatais. Há consenso em manter a abertura econômica com vistas à competitividade, no âmbito de uma globalização em que já estamos conseguindo ser agentes ativos dos interesses nacionais e não espectadores ingênuos da realização de metas alheias.
Na política de desenvolvimento, o Estado não impõe a uma indústria que se instale em determinado local. Nem decide ditatorialmente as vocações econômicas das regiões do país.
O que se faz é estimular o desenvolvimento por meio de um conjunto de ações coordenadas com a iniciativa privada e a comunidade científica e tecnológica. Com isso, o Estado cria condições para que as regiões desenvolvam suas vocações, multipliquem seus empreendedores e atraiam novas empresas.
Esse novo modelo torna desatualizados os pontos de vista de quem, como o senador Roberto Campos, prega que o Estado não planeja o desenvolvimento. Certamente, o ilustre senador sabe que, no contexto da globalização, o Estado sem política de desenvolvimento deixará de tirar proveito de suas vantagens competitivas.
No Estado de São Paulo, os primeiros passos dados na direção de uma política de desenvolvimento já obtiveram resultados. Nos dois últimos anos, conseguimos trazer para cá 119 conglomerados industriais e redes de comércio e serviços, nacionais e de outros 14 países, que investirão US$ 15 bilhões até 1998, gerando 345 mil empregos diretos e indiretos.
Agora estamos entrando em uma nova etapa, com a implantação do plano Estratégia Competitiva do Estado, lançado por esta secretaria. Por esse plano, o papel do governo será exatamente o de indutor, coordenador e catalisador de recursos para o desenvolvimento do Estado, partilhando a responsabilidade do crescimento com quem tem o interesse maior em crescer: as lideranças locais (políticas, empresariais e de trabalhadores). É o que definimos como a "municipalização do desenvolvimento".
Assim, serão criadas, em cada município, Agências de Desenvolvimento Local (ADLs), que identificarão o potencial econômico de cada localidade a partir de suas vocações específicas. Essas agências serão coordenadas por um Fórum de Secretários Municipais de Indústria e Comércio, o canal de ligação direta entre municípios e governo estadual.
Incubadoras de empresas, condomínios industriais e de serviços e empresas de participação comunitária são alguns dos instrumentos de desenvolvimento que serão implantados em convênios com o Sebrae e a Fiesp.
De outra parte, nas 35 Escolas Técnicas Industriais e em cinco Faculdades de Tecnologia (Fatecs) do Centro Paula Souza, espalhadas pelo Estado, demos início ao programa Formação de Jovens Empreendedores, com o objetivo de capacitar os estudantes a criar seus próprios negócios ou adquirir maior critério de empregabilidade. E estamos aperfeiçoando os programas destinados a oferecer mão-de-obra especializada às empresas do Estado já inseridas na globalização.
Dessa forma, o Estado de São Paulo também contribui para a construção do desenvolvimento sustentado, gerando empregos e desfrutando do melhor que a globalização pode nos oferecer.

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