São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 1997
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A escolha da ilusão

LAIR KRAHENBUHL

Quando Jacques Chirac foi prefeito de Paris, a esquerda francesa, que então tinha Mitterrand na presidência do país, também achava que os chamados "temas sociais" eram exclusividade sua. Como prefeito, Chirac defendeu o pequeno comércio parisiense (armazéns e quitandas), proibindo a instalação de novos hipermercados. Embelezou o centro da capital francesa e também construiu moradias populares, além de ter sido autor de uma lei que proibia o despejo de inquilinos inadimplentes durante o inverno.
A esquerda, naturalmente, disse que tudo isso era puro marketing, e muitos continuam achando isso, mesmo depois de Chirac estar instalado no Eliseu, conduzido à Presidência da França pela vontade democrática da esmagadora maioria dos franceses.
Além de subscrever o pensamento acima, de que o povo não sabe votar e se deixa levar pelo primeiro marqueteiro competente que apareça, a professora Erminia Maricato, mais conhecida por ter sido secretária de Habitação de São Paulo na gestão de Luiza Erundina, foi bem mais longe em sua tentativa de explicar por que, no Brasil, "as bandeiras que tradicionalmente foram da esquerda democrática estão mudando de mãos".
Em seu artigo publicado na Folha (9/1), ela recai na surrada tese conspirativa da história, para afirmar que no Brasil existe uma suposta e delirante "barreira midiática", por meio da qual a imprensa, "especialmente rádio e TV", esconde fatos que prejudicariam eleitoralmente o que ela considera ser a "direita", ou seja, os adversários do PT.
Não bastasse a imprensa ter, principalmente às vésperas da eleição, esmiuçado todo e qualquer movimento dos integrantes do governo municipal, até de simples funcionários públicos, objetivando divulgar reais ou imaginárias irregularidades, a administração do prefeito Paulo Maluf foi bombardeada durante dois meses consecutivos, em horário nobre de rádio e TV, pela soma dos adversários eleitorais de Celso Pitta, que gastaram até mesmo mais tempo em ataques pessoais do que na exposição de propostas de governo.
Ocorre, porém, que nenhuma "barreira midiática" é capaz de se sobrepor à realidade. Se assim não fosse, a União Soviética não teria desaparecido, já que lá não faltavam notícias favoráveis, mas sim pura e simplesmente comida nas mesas das pessoas.
Da mesma forma, o índice de aprovação popular da gestão de Paulo Maluf se deve a uma realidade concreta que a população enxerga e sente, sem se deixar teleguiar por mídia alguma, ao contrário da ilusão que certa esquerda cultiva.
O cidadão paulistano não precisou de mídia alguma para constatar: que as enchentes deixaram de acontecer nos locais onde foram construídos piscinões; que o dinheiro poupado com a ineficiente CMTC foi empregado para melhorar o atendimento à saúde, por meio do PAS; que o projeto Cingapura beneficiou não somente os favelados como também valorizou os milhares de imóveis do entorno das favelas, e assim por diante.
Igualmente, de nada adiantou na gestão do PT trazer o Jack Palance para repetir na televisão o bordão do "acredite se quiser", porque a população acreditou no que viu e no que sentiu: hospitais sem funcionários funcionando pela metade, obras paralisadas gerando custos inúteis, a cidade abandonada a cada movimento corporativo de grevistas em serviços públicos essenciais.
Especificamente na área da habitação, a atuação da ex-secretária, que hoje fala no respeito às leis, foi questionada pelo Ministério Público em mais de 30 ações civis públicas, por ter autorizado a construção, por mutirões, de forma irregular. A maioria delas foi julgada procedente.
Além disso, o Tribunal de Contas do Município de São Paulo julgou, por unanimidade, ilegais os convênios jurídicos firmados na administração do PT, determinando a reposição aos cofres municipais das verbas ilegalmente despendidas.
Em resumo, nas eleições, o povo escolhe com base em fatos, não em ilusões, ao contrário de quem prefere escolher a ilusão das conspirações imaginárias para não ter de enfrentar a realidade.

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