São Paulo, quinta-feira, 2 de outubro de 1997
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As sequelas da Encol

CELSO PINTO

O colapso da Encol vai deixar várias sequelas no setor imobiliário. Uma delas deverá ser anunciada em um mês: o Secovi, sindicato das empresas do setor, deve criar um esquema de auto-regulamentação, à semelhança do que existe no setor publicitário, com o Conar.
O objetivo, obviamente, é antecipar um previsível aperto na regulamentação do setor, depois das barbaridades acontecidas na Encol. O diagnóstico dos empresários do setor é que as exigências da Lei nº 4.591 são suficientes para reduzir o risco de falcatruas. O problema é que ela não é cumprida à risca.
A idéia é fazer com que o Secovi ajude a vigiar o cumprimento das exigências legais. Não é difícil saber o que está acontecendo no mercado. A Bolsa de Imóveis, por exemplo, acompanha todos os lançamentos da cidade de São Paulo. Bastaria ir atrás desses lançamentos e conferir se as providências legais foram respeitadas. Caso o Secovi constatasse irregularidades, encaminharia uma denúncia ao Ministério Público.
Não há ilusões, contudo, de que vá ser possível evitar um aperto na regulamentação do setor. Algo que pode vir no bojo do projeto do novo Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), que está sendo examinado no Senado.
Também não há ilusões de que o caso Encol vá ser facilmente absorvido pelo mercado. Ficou muito mais difícil, mesmo para as grandes construtoras, vender novos lançamentos, especialmente em algumas cidades do interior de São Paulo onde a presença da Encol era muito forte.
O projeto do SFI prevê a exigência de as construtoras oferecem aos compradores a possibilidade de ter a garantia de conclusão da obra por meio de um seguro de performance. Como isso implica elevar o custo dos imóveis, a idéia é que a aceitação do seguro pelo comprador seja voluntária. A verdade, contudo, é que o seguro de performance seria o melhor antídoto à justificável desconfiança dos compradores depois da Encol.
Sabe-se que a Rossi, a maior construtora do país (depois da quebra da Encol), está negociando com uma grande seguradora um pacote multimilionário de seguro de performance, que cobriria todas as suas operações. Como se trata de um pacote de grande porte, o custo seria pequeno, algo em torno de 0,5% do custo da obra, e o seguro seria oferecido sem ônus aos compradores. Um seguro desse tipo em menor escala, contudo, pode até aumentar de 3% a 4% o custo da obra.
Caem as ações do BCN
As ações PN do Banco BCN caíram 8,4% ontem, fechando em R$ 15, depois de terem atingido até R$ 16,50, na expectativa de que o banco seria comprado pelo espanhol Bilbao Viscaya (BBV). Os rumores, no mercado, eram de que o negócio estava meio emperrado.
Depois que o BCN negociou durante meses com o BBA e, na última hora, desistiu, o mercado ficou ressabiado em relação às mudanças de humores do controlador do BCN, Pedro Conde.
Alguns fatos são concretos. O Banco Central, de fato, está tentando empurrar o Meridional como parte do pacote de compra do BBV. Antes mesmo que a direção do BBV tivesse um encontro com a direção do BC, em Hong Kong, já haviam chegado a Madri sinais de que o Meridional entraria no negócio.
Não é simples. Se a idéia é vender o Meridional em leilão, o BBV só poderia se comprometer a participar se soubesse o lance mínimo. Se existir a opção de uma venda direta, certamente teria que passar por financiamentos.
O BBV, contudo, não quer comprar o Meridional e alega que, ao comprar o BCN, já vai estar comprando um banco estadual, o mineiro Credireal, recém adquirido pelo BCN e ainda não deglutido.
Aliás, a decisão do BCN de comprar o Credireal é curiosa. Quando entrou no leilão do Credireal, o BCN já estava em negociações com o BBV. O próprio BBV, por sua vez, fez uma cuidadosa avaliação do Credireal antes do leilão.
Quando a intenção de compra do BCN vazou no Brasil, o BBV fez um comunicado à Bolsa de Madri confirmando o interesse em comprar um banco no Brasil e detalhando que estaria disposto a investir até US$ 800 milhões na operação. Fontes próximas ao banco dizem que o recado foi intencional: quanto mais pedágios o BC cobrar do BBV para comprar o BCN, menos dinheiro sobrará para Pedro Conde. Alguns acham que a areia está entrando por aí.

E-maill: CelPinto@uol.com.br

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