São Paulo, quinta-feira, 2 de outubro de 1997
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Análise psíquica pode atrapalhar transplante

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Um estudo concluído recentemente por psiquiatras gaúchos indica a importância de serem avaliadas previamente possíveis contra-indicações psíquicas para a realização de transplantes.
As condições emocionais do paciente podem ser decisivas para o sucesso da cirurgia, especialmente devido à capacidade de ele estar preparado para resistir às modificações que ocorrerão em sua vida, aponta a pesquisa.
O trabalho -realizado pelos psiquiatras José Ricardo de Abreu e Flávio Roithmann e pelos residentes de psiquiatria Luciano Cardoso e Ricardo Dal Polo- foi apresentado na semana passada na 8ª Jornada Paulo Guedes, promovida pela Fundação Universitária Mário Martins, em Porto Alegre (RS).
"Para estabelecer um diagnóstico psiquiátrico do paciente é importante um estudo completo do candidato e de sua personalidade", disse Abreu.
Segundo ele, é fundamental que o paciente aceite e compreenda a proposta do transplante e que tenha capacidade de aderir ao tratamento, que deve ser feito pelo resto da vida, aceitando os compromissos que virão.
Metodologia
O trabalho começou há quatro meses com 24 pacientes; 5 tiveram contra-indicações psiquiátricas, 18 entraram na lista de espera e 1 morreu antes do transplante.
A base do estudo foi a análise de candidatos a transplante hepático no hospital Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre.
As avaliações foram realizadas depois de a equipe médica ter informado o cliente de seu estado clínico e indicado o transplante.
Foram realizadas entrevistas com pacientes e parentes. Em todos os casos, houve consenso quanto ao resultado da avaliação.
Psicoterapia
Houve contra-indicações temporárias ao transplante nos casos de D. e N., com a indicação de que os dois pacientes se submetessem a psicoterapias.
N. teve momentos de depressão. D. negou a gravidade da doença e planejou viagem ao exterior, fazendo pouco caso do tratamento. Recusou a psicoterapia.
A funcionária pública N., 51, soube que tinha hepatite C em 95. Quando o transplante foi indicado, ficou desanimada e sem vontade de fazer o tratamento.
Ela disse aos psiquiatras que, em alguns momentos, chegou a pensar em suicídio. Acha que, estando sozinha, desistiria de cuidar de si mesma, necessitando da ajuda de parentes.
O aposentado D., 59, casado, é portador de cirrose por hepatite C. Demonstrou dúvidas sobre o seu verdadeiro estado de saúde e indício de que não iria aderir ao tratamento. Os médicos descobriram traços de paranóia.
Ele fez, por conta própria, uma "cirurgia astral" e, depois disso, passou a se considerar em melhor estado.

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