São Paulo, quinta-feira, 2 de outubro de 1997
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Iludir a morte

CARLOS SARLI

"O que é mais radical nos esportes radicais?" Com essa pergunta, a estudante de comunicação da Faap começou a me entrevistar para o seu trabalho de rádio e TV.
Resposta: "O medo da morte". A proximidade do desconhecido que chamamos de morte, que nos esportes de ação encaramos frequentemente. Quanto mais você se aproxima, maior a produção de adrenalina no corpo, substância da qual muitas pessoas se tornam dependentes.
Administrar essa relação com técnica, equipamento e condicionamento é o lance desses esportes. Quanto mais você ilude a morte, maior é o triunfo.
Recentemente li um artigo na revista "US News" com vários números que ajudam a ilustrar a resposta. Vamos a eles.
Segundo a associação dos fabricantes de material esportivo, o patim in-line foi o esporte de maior crescimento e o mais popular entre crianças e adolescentes em 96. Esporte que, no ano anterior, sozinho, mandou 105 mil pessoas para as emergências dos hospitais.
Escalar montanhas é outra prática com espantoso crescimento nos últimos anos. De 1989 para cá, o número de adeptos das rochas cresceu de 50 mil para meio milhão. A proporção também tem seu lado nefasto. A "ice climber" Nancy Prichard lamenta a expectativa de perder de três a quatro amigos por ano.
Os esportes derivados do pára-quedismo têm crescimento parecido. O sky surfing já conta com milhares de praticantes, enquanto o base-jump, praticado, em geral ilegalmente e à noite, de pontos fixos como antenas de rádio e pontes, conta com centenas de praticantes.
Apesar dos números, ou melhor, por causa deles, os esportes de ação têm crescido tanto. É a satisfação da necessidade de correr riscos. É a negação à vida medíocre, à rotina. Como bem disse Peter Pan: "Morrer deve ser uma tremenda aventura". Viver também.

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