São Paulo, quinta-feira, 2 de outubro de 1997
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Para líder, grupo sobreviverá

PATRICE CLAUDE
DO "LE MONDE", EM KHAN YOUNIS

Sorridente, descontraído, Abdel Aziz el Rantissi, "número um" entre os dirigentes políticos conhecidos do Hamas, não tem nenhuma inquietude aparente. O Movimento de Resistência Islâmico, que ele ajudou a fundar em 1987, a partir de associações integralistas então encorajadas por Israel para fazer frente aos revolucionários nacionalistas da OLP, "sobreviverá sem problema" aos últimos golpes cometidos contra o grupo conjuntamente pelo Estado judeu e pela polícia de Arafat.
"O fechamento autoritário das nossas associações de caridade, decidida na semana passada por Arafat, não alterará em nada a capacidade de nossa ala militar de manter os golpes contra as forças de ocupação", diz ele.
A experiência dos cinco últimos anos, marcados por milhares de prisões de simpatizantes islâmicos, centenas de eliminações físicas de militantes e dezenas de fechamentos autoritários de instituições cívicas, educativas ou religiosas ligadas ao movimento, reforça as certezas de El Rantissi. Israel e a Autoridade Palestina não ignoram que o Hamas tira sua força da ocupação dos territórios e da miséria nos territórios palestinos -o movimento ganha força nas brechas deixadas pelo Estado.
Retrato de Iassim
No salão de sua casa em Khan Younis, na faixa de Gaza, sob o retrato desenhado do velho xeque Ahmed Iassim, El Rantissi não diz outra coisa: "Iasser Arafat acaba de se dobrar novamente à ordens de Israel e dos EUA. O que ganhou em troca? Nada, só o anúncio feito por Netanyahu de novos confiscos de terras palestinas e aceleração da colonização judaica do nosso país. Grave erro. Nosso povo está mais frustrado do que nunca. No fim das contas, enquanto a Autoridade (Palestina) não perceber que os acordos de Oslo destroem nossa unidade nacional e nossos belos sonhos de independência, será ela que sofrerá as consequências".
El Rantissi, 50, casado, pai de seis filhos, dentista, não quer ameaçar Arafat. Em julho, durante uma reunião de todas as facções políticas em Gaza, para "construir uma unidade nacional", o presidente palestino publicamente lhe deu um abraço e o "beijo da morte", nas palavras de Netanyahu. "Quem é sério não abraça terroristas, prende", disse o premiê.
Sobre o episódio, El Rantissi sorri. Ele foi libertado das prisões israelenses três meses antes, após um ano de banimento no sul do Líbano e três anos e meio na cadeia por "pertencer a organização terrorista". O beijo, diz ele, é "rotineiro na sociedade árabe, sem nenhum significado político". Se encontrasse novamente com Arafat, o líder do Hamas diz que não hesitaria em tratá-lo da mesma forma.
Existe a avaliação de que, ao incentivar a Autoridade Palestina a prender um número crescente de simpatizantes islâmicos e atacar aquilo que os israelenses chamam de "infra-estrutura do terror", o governo Netanyahu busca iniciar uma guerra civil entre os palestinos. "Jamais daremos esse prazer aos israelenses", diz El Rantissi. "Jamais voltaremos nossas armas contra nossos irmãos e seremos eternamente pacientes. Um dia, eles perceberão o erro. Um dia, verão que só temos um inimigo, Israel, e que não há outras possibilidade: precisamos retomar a luta armada contra a ocupação."

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