São Paulo, quinta-feira, 2 de outubro de 1997
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O êxodo peemedebista

ALBERTO GOLDMAN; ALOYSIO NUNES FERREIRA FILHO

Com sua face indefinida, o PMDB expele seus antigos quadros para um espectro com cara e política mais claras
ALBERTO GOLDMAN e ALOYSIO NUNES FERREIRA FILHO
A um ano das eleições gerais, prazo fatal de filiação partidária para os que desejam disputá-las, realizam-se inúmeras transferências de um partido para o outro. À primeira vista, sem uma reflexão maior, pode parecer que, diante da inconsistência dos atuais partidos, a reacomodação se restringe a interesses pessoais ou eleitorais.
A opinião pública, de fato, dá pouca importância ao partido e imagina que a mudança se guia apenas por interesses, sob sua ótica, menores. Em parte tem razão, na medida em que a sobrevivência política é um elemento da realidade.
Porém cada movimento desses é condicionado por razões mais profundas, que levam em conta a história concreta de cada político e a do agrupamento a que pertencem. A ruptura se dá quando se torna insuperável a contradição entre a imagem e a ação do partido -e quando isso conflita com o conjunto das convicções pessoais e da base de sustentação eleitoral do político.
Se analisarmos as duas últimas décadas da vida brasileira, veremos que os partidos de hoje têm sua origem em duas fontes: a Arena (depois PDS) e o MDB (depois PMDB). Com a abertura política, criaram-se opções que, com a consolidação da democracia, vão lentamente definindo seu perfil.
Do PMDB nasceu o PT, como contestação radical e com forte componente corporativo; depois, o PSDB, buscando a vertente da social-democracia. Do PDS nasceu o PFL, buscando um perfil liberal clássico, e o PPB, com um desenho essencialmente conservador. Mas o PMDB continuou existindo, procurando uma vertente que foi incapaz de encontrar.
Excetuando acomodações pontuais que estão se dando nos dias de hoje (como o pequeno crescimento do PSB com egressos do PT e do PSDB), o movimento mais forte continua sendo o que se dá a partir do PMDB para o PSDB, para o PFL e para o PPB.
Isso ocorre exatamente porque, com sua face indefinida e dilacerado por insuperáveis conflitos internos, o PMDB expele seus antigos quadros para um espectro com cara e política mais claras. E isso só não se dá com mais força porque as situações regionais ainda exercem um papel aglutinador que extrapola a dinâmica nacional.
Nós nos julgamos herdeiros e construtores das grandes lutas do povo brasileiro que o PMDB liderou. Como políticos testados e amadurecidos em meio à ditadura militar, nos preparamos também para o grande desafio da vida democrática: organizar a sociedade brasileira para superar a exclusão social, que condena a grande maioria do povo à pobreza e à miséria absolutas, dando consequência às liberdades duramente conquistadas e assegurando a crescente participação política da cidadania e o exercício de seus direitos.
O Estado e as instituições sociais que temos -e que tantos benefícios trouxeram ao Brasil- esgotaram-se e não são capazes de atender às novas e gigantescas necessidades do país. Trata-se de transformá-los profundamente, extinguindo os privilégios que contêm, abolindo os favores que conferem ao capital privado, recuperando o prestígio e a eficiência dos serviços públicos na saúde, na educação e na seguridade social, abrindo caminho a uma nova inserção internacional do país, mantendo a sua necessária autonomia.
Numa nova era mundial, sacudida por transformações tão profundas quanto velozes, o nosso país exige dos seus quadros políticos uma atualização à altura das novas questões emergentes.
Para fazer oposição ao liberalismo, defensor da supremacia do mercado como valor único e universal, devemos buscar novos caminhos, que permitam atingir os objetivos desejados.
É preciso defender as reformas. Submeter cada uma delas ao interesse da maioria. É isso que nos distingue do liberalismo das elites do capital e do "esquerdismo" comprometido com as estruturas do Estado empresário, corporativo e paralisante. Para isso, é necessário articular uma ampla aliança, uma maioria representativa da sociedade nacional, sem o que as reformas poderão sucumbir ao impacto esterilizante das facções minoritárias ou levar à ruptura da institucionalidade democrática.
Coube ao PSDB, também herdeiro legítimo das lutas pela democracia, assumir, na decisiva conjuntura nacional que vivemos, o papel de núcleo de vanguarda das grandes transformações históricas da atualidade brasileira. Foi por isso que nos filiamos a ele.
Longe de ser uma ruptura, a nossa decisão de deixar o PMDB representa uma continuidade consequente. Entramos no PSDB para nos integrar ao esforço do partido e do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso para reformar as estruturas do Estado e da sociedade, com a finalidade de acelerar o crescimento econômico e eliminar as desigualdades sociais.
Também nos orgulhamos de estar ao lado de Mário Covas, que tem mostrado aos paulistas como é possível governar com a mais absoluta integridade e os olhos voltados para as grandes maiorias. Confiantes, iniciamos uma nova fase em nossa vida política com a disposição de sempre -pôr a nossa história e a nossa capacidade de luta a serviço do país.

Alberto Goldman, 59, é deputado federal pelo PSDB de São Paulo. Foi ministro dos Transportes (governo Itamar Franco) e secretário da Administração do Estado de São Paulo (governo Orestes Quércia).

Aloysio Nunes Ferreira Filho, 52, advogado, é deputado federal pelo PSDB de São Paulo. Foi vice-governador do Estado de São Paulo (1991-94).

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