São Paulo, quinta-feira, 2 de outubro de 1997
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VENENO ENTRE EUA E EUROPA

O fim da Guerra Fria e a derrubada do Muro de Berlim aparentemente deram lugar a novos muros. É o que sugere a confrontação recente entre os Estados Unidos e a União Européia, motivada, mas não limitada, à questão do comércio entre países europeus e Estados considerados terroristas pelos EUA, como Líbia e Irã.
Os EUA têm recorrido com frequência a instrumentos unilaterais e estão em plena ofensiva. Ontem abriram fogo, na OMC, contra o suposto protecionismo dos asiáticos.
Além da lei que prevê punições a empresas, mesmo as estrangeiras, que invistam mais de US$ 20 milhões no Irã e na Líbia, os EUA têm recorrido à lei Helms-Burton para punir empresas que atuem em Cuba.
Não é difícil entender a "rationale" dos EUA, aliás posta a nu pelo seu próprio embaixador recém-nomeado para a França, Felix Rohatyn. Ele diz que há poucos anos previa-se a derrocada econômica dos Estados Unidos e a ascensão de Japão e Alemanha. Isso mudou e fazer negócios à revelia dos interesses dos EUA agora, diz Rohatyn, é "correr riscos".
A nova versão da "Pax Americana" é ainda menos palatável que a anterior. Afinal, nos anos 50 e 60 a Europa crescia em ritmo de milagre, impulsionada pela reconstrução e por capitais norte-americanos, então interessados em barrar a ameaça soviética. A economia política da Guerra Fria era favorável aos europeus.
Com o fim do mundo bipolar, as economias da União Européia patinam e os EUA deixam de ser uma garantia necessária ou conveniente tanto na economia como na segurança.
Nesse contexto, além das divergências geopolíticas e das divergências culturais, a luta por oportunidades de investimento torna-se encarniçada para americanos e europeus. Leis que violam um princípio básico (nenhum país pode legislar sobre os outros) tornam ainda mais envenenadas as linhas outrora glamourosas entre os dois lados do Atlântico.

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