São Paulo, quinta-feira, 2 de outubro de 1997
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Tio Sam entra na campanha

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Ao cutucar os Estados Unidos com vara curta, ontem, em Santiago do Chile, o presidente Fernando Henrique Cardoso cumpria duas obrigações: uma de governo, outra de campanha.
Ele criticou a arrogância hegemônica dos EUA e as barreiras protecionistas que eles nos impõem, aos cucarachas do lado de baixo do Equador. Não foi um rompante nem um puro gesto oportunista.
Essa mesma posição norteia o discurso do governo FHC desde o início e foi o próprio presidente quem a transmitiu a Francisco Dornelles na véspera da posse no Ministério da Indústria e do Comércio, em 7 de maio de 96. Dias depois, o ministro já tinha sobre sua mesa de trabalho a lista dos oito produtos que são alvo sistemático da ganância comercial norte-americana.
O chanceler Luiz Felipe Lampreia, apesar de eventuais divergências, afinou o tom com Dornelles contra as barreiras ao aço brasileiro e as críticas ao nosso regime automotivo, que entrou na berlinda em Washington, um ano atrás. A diferença é de ritmo.
Dito isso -que há, efetivamente, uma estratégia de governo nas declarações do presidente-, é preciso acrescentar que elas são também convenientes ao candidato FHC.
Enquanto os adversários discutem frentes, partidos e adesões, FHC busca outro patamar. Quanto menos as pessoas lembrarem de compra de votos, melhor. E quanto mais fora de Brasília estiver, melhor ainda.
Vai ao Chile, assume ares de líder do Mercosul e bate nos EUA. Vai ao Rio e desfila com o papa diante das câmeras internacionais.
Depois, uma viagem a Cingapura, outra a Londres.
FHC vem perdendo o encanto entre os pequenos empresários e a classe média desempregada, que se transformam em público-alvo de Ciro.
Como presidente e avalista do Real, porém, ele é a opção das classes dominantes, dos intelectuais, dos formadores de opinião. E age para se manter assim.
Ciro ainda se apresenta ao país. FHC já está lá na frente, pintando de estadista na era da globalização.

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