São Paulo, sexta-feira, 3 de outubro de 1997
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João Paulo 2º faz defesa de minorias

Papa se refere ainda à 'infância desprotegida'

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O papa João Paulo 2º deu ênfase aos "desequilíbrios sociais" e à "distribuição desigual e injusta" das riquezas, em discurso de 12 minutos que fez ao iniciar, ontem, sua terceira visita ao Brasil.
Referiu-se também à "infância desprotegida", aos "conflitos na cidade e no campo". Fez ainda a defesa de duas minorias étnicas, a dos índios e a dos negros.
Por sua vez, o presidente Fernando Henrique Cardoso, em discurso de saudação, procurou problematizar bem menos as desigualdades sociais brasileiras.
Disse que o país "felizmente reencontra o caminho do desenvolvimento e da justiça", e que se inspira nos valores cristãos para "o desenvolvimento pleno da pessoa humana".
O trireator MD-11 da Alitalia, fretado pelo Vaticano, pousou às 15h42 com o papa e sua comitiva na Base Aérea do Galeão.
O avião, como ocorre com os demais daquela empresa italiana, estampava um nome próprio. Era o do violinista e compositor do século 19 Nicoló Paganini, sobre quem pesavam, em sua época, suspeitas de ter um "pacto com o demônio" para a produção de músicas tecnicamente perfeitas.
Cansaço
João Paulo 2º demonstrava cansaço e muita dificuldade de locomoção ao desembarcar em companhia do núncio apostólico Alfio Rapisarda, que subiu a bordo para recepcioná-lo. Não beijou o chão, conforme fizera em 80 e em 91, ao iniciar suas visitas anteriores.
FHC, ao recebê-lo, segurou por baixo os dois braços que ele estendia, como se estivesse servindo de apoio por cerca de um minuto. Foi em seguida com o andar lento e arcado que João Paulo 2º caminhou em direção à tribuna coberta em que faria seu discurso.
Primeiro falou FHC. Disse que a "mensagem de amor e caridade" que o papa trouxera em suas visitas anteriores "tem sido para nós, invariavelmente, uma fonte de inspiração nos esforços que fazemos para sermos uma sociedade melhor, mais humana".
Lembrou o "diálogo franco e proveitoso" que tivera com o papa, no encontro que ambos mantiveram no Vaticano. No jargão diplomático, "diálogo franco" é uma expressão que indica divergências. FHC, no entanto, não deu indicação sobre quais elas seriam.
João Paulo 2º, em seu discurso, não se limitou a criticar as desigualdades no Brasil. Também elogiou o país e seu povo, que "pelo gênio empreendedor" tem "um lugar na vanguarda entre as maiores potências do mundo".
Crianças
Entre 16h37 e 17h05, quando num helicóptero Puma da Aeronáutica ele deixou a Base Aérea, em direção ao centro do Rio, o papa recebeu cumprimentos.
Primeiro das autoridades constituídas -como os presidentes da Câmara e do Senado-, em seguida dos bispos, e a seguir do corpo diplomático e das 400 crianças de escolas católicas cariocas.
Cristiano Victoriano de Sousa, 10, da Escola Nossa Senhora de Nazaré, se dispunha a pedir ao papa "muita saúde para a minha família". Camila Gerin Werneck, 11, disse que "ficaria muito feliz" se o papa lhe desse atenção.
As crianças ganharam da Arquidiocese do Rio bandeirinhas do Brasil e do Vaticano que farfalhavam sozinhas, com a chegada do papa, em razão do vento forte que soprava na Ilha do Governador.
Não precisaram se abastecer junto a vendedores ambulantes. Um deles, Hélio Reni da Rocha, 32, chegou à Base Aérea com uma parte do estoque que comprou por R$ 0,60 a unidade, e que revenderia por R$ 1,00.

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