São Paulo, sexta-feira, 3 de outubro de 1997
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'Não há transfusões seguras'

AURELIANO BIANCARELLI; NOELLY RUSSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A prática do brasileiro, de apenas doar sangue quando algum parente precisa, aumenta riscos das transfusões.
Na Europa e nos Estados Unidos, 80% dos doadores são de repetição, pessoas que doam com regularidade e que por isso têm a saúde mais bem controlada.
"No Brasil, menos de 20% doam sangue rotineiramente", diz Amadeo Alquezar, superintendente de sorologia da Fundação Pró-Sangue e diretor colaborador da Organização Mundial da Saúde.
Janela imunológica
Esse quadro aumenta os riscos decorrentes da chamada "janela imunológica" -tempo que o organismo leva para criar o anticorpo que será detectado pelos testes.
A média dessa janela é de 22 dias para o HIV, 82 para a hepatite C e 59 para a hepatite B.
Por conta desse período, estudos citados por Alquezar e publicados no "New England Journal of Medicine" apontam que pode ocorrer uma contaminação por HIV a cada 675 mil transfusões. Por hepatite C, uma a cada 125 mil, e por hepatite B, uma a cada 66 mil.
Dalton Chamone, também da Pró-Sangue, diz que um estudo da fundação vem mostrando que o número de contaminações, na prática, seria bem menor que o apontado nos estudos de projeção.
"Há estudos mostrando que é mais fácil ser atropelado do que ser contaminado numa transfusão", diz o hematologista Celso Guerra.
"Ainda assim, não existem transfusões totalmente seguras. Se possível, é melhor evitá-las."
Chamone afirma que é mais confiável o sangue onde a medicina é mais desenvolvida do que de lugares menos desenvolvidos.
Para o hematologista Elbio D'Amico, 44, responsável pelo Departamento de Hemofilia do Hemocentro do Hospital das Clínicas, há muito pouco a ser feito no caso de doação de sangue.
"No caso dos hemofílicos, o controle é maior porque o sangue passa por uma bateria de testes e, antes de ser concentrado para produtos anti-hemofílicos, passa por outros exames que eliminam quaisquer microorganismos que tenham permanecido. No caso do Hemocentro do HC, esses produtos são importados dos EUA, Alemanha e Áustria. Esses países têm alto controle de seus produtos."
Ele disse que os produtos de alta e ultra-alta pureza apresentam menos risco de contaminação.
Para quem precisar de sangue em cirurgia ou acidente, há pouco a ser feito.
"Algumas medidas podem ser adotadas. Verificar se na bolsa de sangue existe um selo com número na bolsa e verificar existência de controle. Também pode-se pedir ao hospital o alvará sanitário do banco de sangue fornecedor. O ideal é que as fiscalizações ocorram com regularidade. Se a última fiscalização foi realizada há muitos anos, talvez o sangue não seja tão bom."
(AURELIANO BIANCARELLI e NOELLY RUSSO)

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