São Paulo, sábado, 4 de outubro de 1997
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Mendigos e crianças desaparecem das ruas durante visita do papa

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

O papa João Paulo 2º chegou ao Rio discursando sobre "os desequilíbrios sociais" do país e encontrou uma cidade mais limpa e com menos mendigos e crianças perambulando por algumas ruas.
A artista plástica Yvonne Bezerra de Mello, que trabalha com populações carentes, conversou anteontem com conhecidos das ruas e garante: a cidade passou por uma "maquiagem" por causa da visita do papa.
Segundo ela, crianças e mendigos foram retirados de pontos da cidade para que o papa não visse a dramática realidade social carioca.
"Acho isso uma hipocrisia. As visitas internacionais têm de ver a cidade do jeito que ela é", afirmou. "Em vez de tentar solucionar os problemas, procuram esconder."
Na quinta-feira, Yvonne Bezerra de Mello visitou trechos da orla da Glória, Flamengo, Copacabana e Centro, não encontrando vários mendigos que conhece. "Eles foram recolhidos por ordem do Jaime Melo", afirmou.
Melo é o presidente da Fundação Leão 13, órgão estadual que lida com populações de rua. A chefe de gabinete da fundação, Maria José, afirmou que, desde janeiro, Melo vem implementando o recolhimento constante de mendigos das ruas e que nenhuma operação foi montada por causa da visita papal.
A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social também informou não ter montado operação.
Nas imediações da estação da Leopoldina (região central), a artista plástica não encontrou anteontem meninos que, normalmente, vendem balas na saída do viaduto da Linha Vermelha.
Esse viaduto dá acesso à região central da cidade -passagem obrigatória de membros da comitiva do papa que tenham seguido do Aeroporto Internacional do Rio para o morro do Sumaré (zona norte do Rio), onde fica a casa em que o papa está hospedado.
Ela acabou localizando uma dessas crianças. "Policiais disseram a ela que, se aparecesse, ia ter pau." Ontem, alguns adolescentes estavam no mesmo trecho, limpando pára-brisas de veículos que paravam no semáforo.
Dois garotos disseram à Folha que policiais militares andaram fazendo ameaças. "Eles estão implicando mais com a gente por causa desse negócio do papa", afirmou Fábio Nascimento Modesto, 16.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Segurança afirmou desconhecer qualquer ordem para intimidar meninos e meninas de ruas que perambulam por trechos por onde o papa e sua comitiva passariam.

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