São Paulo, sábado, 4 de outubro de 1997
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Pesquisa revela jovens e excluídos distantes das igrejas brasileiras

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisa Datafolha entre católicos praticantes confirma, em números, o problema que um padre mais atento poderia observar do altar enquanto reza a missa: faltam jovens e excluídos nos bancos da igreja.
O perfil do católico brasileiro que frequenta as missas traçado pelo Datafolha mostra uma pessoa mais velha, com maior escolaridade e renda mais alta do que a média da população.
Além disso, os jovens que vão à igreja são, entre os fiéis, os que mais têm dúvidas em relação a dogmas da doutrina católica.
No conjunto da população brasileira esse percentual não passa de 35%.
Na outra ponta, a presença dos jovens na igreja é menor do que a média da população.
O grupo de 16 a 25 anos corresponde a 31% dos brasileiros e a apenas 24% dos católicos, segundo o Datafolha.
Esses dados quantificam a deficiência da igreja católica em atrair os jovens para seus cultos. Mas outros números da pesquisa mostram que a igreja tem dificuldade de se comunicar também com aqueles jovens que vão à missa.
As pessoas 16 a 25 anos são as que mais têm dúvidas e questionamentos em relação a dogmas católicos.
Os jovens são os que menos acreditam que a hóstia é o corpo de Cristo (87% contra 93% dos com mais de 40 anos), na virgindade de Maria (88% contra 93%), que Jesus voltará no fim dos tempos (69% contra 78%), que exista vida após a morte (58% contra 68%).
Os jovens são também os menos crentes nos fenômenos da fé: 87% dos católicos praticantes de 16 a 25 anos acreditam em milagre, contra 93% daqueles entre 26 e 40 anos.
Especificamente em relação ao papa, os jovens são os que mais duvidam de sua infalibilidade: 80%, contra 74% da média dos católicos praticantes.
Dia-a-dia
Quando as questões enveredam por temas do dia-a-dia, o conflito de jovens e posições da igreja aumenta.
Contrariando as diretrizes do Vaticano sobre sexo, os jovens são os primeiros a dizer que nem a mulher (46%) nem o homem (56%) devem casar virgens.
Também estão entre os que mais defendem o uso da camisinha para evitar a gravidez (95%) e a Aids (98%).
A julgar pela pesquisa Datafolha, a falta de apelo à juventude só não é mais grave por causa de ações específicas da igreja voltadas aos jovens.
Atividades como cursos de catequese e grupos de jovens são as que mais adesão têm entre os católicos.
Elite
Além de envelhecido, o rebanho católico brasileiro está ficando elitizado. Dos que frequentam a igreja, 22% têm nível superior (contra 8% da média da população), mas só 41% estudaram até o primeiro grau (contra 63% da população em geral).
Segundo o Datafolha, 18% dos católicos ganham mais do que 20 salários mínimos por mês. Ou seja: há três vezes mais do que a média da população.
Mesmo assim, os fiéis com renda inferior a 10 salários mínimos ainda são maioria, com 57%.
Esses dados ajudam a entender a razão do crescimento das seitas evangélicas entre a população mais pobre.

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