São Paulo, sábado, 4 de outubro de 1997
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Padre Zezinho canta para João Paulo 2º

HAROLDO CERAVOLO SEREZA
DA REDAÇÃO

Quarenta shows por ano, com um público de até 50 mil pessoas, 78 discos, gravados em sete línguas, 14 vídeos. Não, não é Bob Dylan. Não, não é Roberto Carlos. O popstar é o mineiro José Alves, 56, o padre Zezinho, sacerdote da Igreja Católica. E, como popstar, é mais uma atração dessa vinda do papa João Paulo 2º ao Brasil.
Com letras conhecidas por qualquer católico mais ou menos praticante, Zezinho, que vende 100 mil disco por ano, é o autor da música oficial do "2º Encontro Mundial do Papa com as Famílias", hoje no Maracanã. "Oração pela Família", composta há sete anos, já foi traduzida para cinco línguas, mas é só mais um dos sucessos na carreira do padre comunicador, como se autodefine.
Ordenado há 31 anos, depois de frequentar seminário da ordem do Sagrado Coração de Jesus nos EUA, Zezinho foi indicado auxiliar da paróquia São Judas Tadeu, no Jabaquara, zona sul de São Paulo.
"O iê-iê-iê estava em alta", lembra. "Senti a necessidade de fazer uma música especial, própria, porque o pessoal estava fazendo letra em cima de músicas da jovem guarda."
Começou usando o country, marchinhas e valsinhas alemãs. Depois, enveredou pelo blues e pela música caipira brasileira. Nada mais natural para quem nasceu em Machado (sul de Minas) e mudou, aos 2 anos, para Taubaté (134 km a nordeste de São Paulo), onde vive até hoje, na sede da ordem. "Minha música é de raiz."
Há 30 anos, a missa do padre Zezinho na São Judas Tadeu chamou a atenção pela heterodoxia. "Foi lá, pela primeira vez, que se deu as mãos no 'Pai-Nosso'."
Como ele próprio reconhece, na época, "não cabia, na cabeça do povo, a idéia de um padre artista. Hoje cabe." A São Judas Tadeu tinha grupos de teatro, dança, música. E, numa nova liturgia, não só o padre, mas também os presentes falavam.
Em seis anos, a paróquia ficou pequena. Zezinho foi liberado e, hoje, reza a missa nas cidades aonde faz shows (das apresentações, 30% do arrecadado vai para ordem, e 70% ficam na comunidade que organiza o evento). "Eu vou aonde o povo está. Faço como Milton Nascimento e Roberto Carlos. Eles aparecem pouco na TV."
Padre Zezinho evita a televisão, mesmo a Rede Vida, bancada pela igreja, mas tem programas de rádio e é autor de livros de catequese. Entre eles, "Essa Juventude Magnífica e seus Namoros nem Sempre Maravilhosos" e "Cuidado Rapaz", sobre o problema da droga.
Não é a primeira vez que padre Zezinho canta diante do papa. Ele já o fez nas duas passagens de João Paulo 2º ao Brasil -a primeira, em São Paulo, em 1980, e a segunda, em Natal, em 1991.
Sobre a música "Oração Pelas Famílias", afirma: "As idéias já são dele. Musiquei o que estava na carta 'Familiaris Consortio'. Ela ficou comprida. Às vezes, eu esqueço a letra, mas o povo sabe de cor."

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