São Paulo, sábado, 4 de outubro de 1997
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João Paulo 2º e FHC discutem, a sós, problemas sociais do país

WILLIAM FRANÇA

WILLIAM FRANÇA; CRISTINA GRILLO; ELVIRA LOBATO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Presidente diz ter relatado ao papa esforço de seu governo 'em fazer a reforma agrária'

CRISTINA GRILLO
O papa João Paulo 2º ficou o dobro do tempo previsto conversando com o presidente Fernando Henrique Cardoso, ontem, no Palácio das Laranjeiras.
O encontro dos dois a sós durou 40 minutos em vez de 20 e, segundo FHC, tratou "dos problemas sociais do Brasil".
Coube ao governo brasileiro, pelas regras do cerimonial, relatar a conversa. O presidente convocou a imprensa e, sem dar detalhes, disse que trataram dos principais problemas do mundo e do país.
FHC buscou ainda minorar os atritos que tem com a Igreja Católica: "Manifestamos nossa satisfação pelo relacionamento cordial entre o governo e a igreja no Brasil. E nossos votos conjuntos de que as coisas possam melhorar, sobretudo, para os que mais precisam".
Segundo FHC, o governo adere ao clamor por uma sociedade mais justa: "Que é o clamor do papa".
O presidente disse que relatou para o papa seu "esforço em fazer a reforma agrária", sua luta pelos direitos humanos e seu propósito de colocar todas as crianças na escola. Para ilustrar esses temas, deu ao papa cópias dos textos dos programas de governo.
FHC disse não ter feito nenhum pedido especial ao papa. A conversa dos dois foi toda em português e, segundo FHC, "com força". "Me deu a impressão que (o papa) está renovado nas suas energias. Isso também, em termos pessoais, é um motivo de alegria."
Após o encontro com FHC na sala de estar, João Paulo 2º dirigiu-se à sala de jantar do palácio, onde cumprimentou os 33 convidados da Presidência. O papa caminhava amparado por uma bengala, mas a abandonou ao chegar ao salão. Ele cumprimentou jornalistas e fotógrafos e pareceu não entender quando FHC pediu a ele que abençoasse os jornalistas. "Para que eles passem a me tratar melhor."
O ex-presidente Itamar Franco foi o primeiro a cumprimentar João Paulo 2º. Distraído, não pegou a caixa com uma medalha que o papa ofereceu. Foi preciso que FHC o segurasse pelo braço e o fizesse voltar, enquanto o papa chacoalhava a caixa, tentando chamar a atenção do ex-presidente. Já o senador José Sarney (PMDB-AP) seguiu o protocolo: fez uma pequena reverência e beijou o anel papal.
FHC presenteou o papa com uma edição de 1668 do livro "Notícias Curiosas e Necessárias das Cousas do Brasil", do padre Simão de Vasconcelos.
O livro, editado em Lisboa, é encadernado em couro e apresenta anotações feitas no século 17. Tem ainda uma sobrecapa de prata feita no século 19 e foi comprado em um antiquário em São Paulo. O papa recebeu ainda cópias encadernadas do Programa Nacional de Direitos Humanos e do projeto "Toda Criança na Escola".
FHC recebeu um mosaico reproduzindo a praça de São Pedro, no Vaticano. O papa ficou uma hora e dez minutos no palácio.
Família A família de FHC, apresentada ontem ao papa João Paulo 2º, está longe dos ideais de família pregados pela Igreja Católica. Nenhum dos três filhos de FHC é casado -seja no civil ou no religioso-, vivendo assim em concubinato. Dois dos cinco netos de FHC também não foram batizados.
Embora FHC e Ruth tenham casado no civil e no religioso há 44 anos, não frequentam a Igreja Católica -até porque não expressam sua opção religiosa.
O grupo, que teve audiência em separado com o papa numa sala do Palácio das Laranjeiras, ficou cinco minutos a menos do que o tempo previsto -15 dos 20 minutos.

Colaborou Elvira Lobato, da Sucursal do Rio

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