São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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PM mata seis em favela do Rio

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Seis homens foram mortos ontem, pela manhã, na favela Águia de Ouro, no bairro do Méier, zona norte do Rio, por policiais do 3º BPM (Batalhão de Polícia Militar).
Foi a segunda ocorrência com mortes envolvendo o batalhão em dois dias. A primeira ocorreu na madrugada de quinta-feira, quando cinco homens, acusados pela polícia de envolvimento com o tráfico de drogas, foram mortos a tiros na favela do Rato Molhado (no Engenho Novo, zona norte).
A ofensiva policial contra supostos traficantes coincide com a posse do coronel Marcos Paes no comando daquele batalhão.
O coronel, que assumiu o cargo na última terça-feira, é apontado por setores ligados à defesa dos direitos humanos como representante da linha dura da polícia do Rio.
O major Antônio Aunir, que chefiava o 3º BPM no momento da chacina, disse à Folha que o novo comandante deu ordem para "investir contra o crime".
O major afirmou que os policiais foram recebidos a balas pelos supostos traficantes da favela Águia de Ouro, mas nenhum policial foi ferido.
O major nega que o 3º Batalhão tenha promovido uma matança. "Os policiais atiraram para se defender. Não somos grupo de extermínio", declarou.
Segundo o oficial, o coronel Paes era comandante do 9º BPM (Rocha Miranda, zona norte) e a criminalidade teria caído pela metade durante sua gestão. "Ele quer fazer o mesmo aqui."
Ele disse que enviou duas equipes -cada uma com dez policiais- para o local. Um carro entrou na favela pela frente e outro pelos fundos.
Segundo ele, a equipe que entrou pela frente foi recebida a tiros por cerca de 25 homens, mas os supostos traficantes ficaram "prensados" pela outra equipe que chegou pelos fundos.
Segundo o relato do major, seguiu-se um intenso tiroteio. A troca de tiros começou por volta das 5h30 e seis outras equipes foram enviadas para reforço.
Ele disse que os seis mortos foram levados para o hospital Salgado Filho (também no Méier) ainda com vida e que morreram logo depois de chegarem ao Salgado Filho.
O enfrentamento foi registrado na 26ª Delegacia Policial, no Méier. O batalhão comunicou a apreensão de quatro pistolas, seis fuzis, 93 trouxinhas de maconha, 54 sacos plásticos também com maconha e 59 papelotes de cocaína.
Até o meio dia, os seis corpos permaneciam no necrotério do hospital e apenas um havia sido identificado.
Segundo major, entre os mortos estaria um dos líderes do tráfico da favela, conhecido como Marcinho.
O deputado estadual Edmilson Valentim (PC do B), presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Assembléia Legislativa do Rio que apura abusos de autoridade policial, disse que o coronel Paes "é um dos que melhor representam a política de enfrentamento do general Nilton Cerqueira (secretário de Segurança Pública do Estado)".
Valentim disse que a prática de a polícia conduzir supostos traficantes feridos para hospitais acaba "desfazendo o local" e dificultando a apuração de como os fatos ocorreram.

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