São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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Papa reafirma posição da igreja contrária à separação de casais

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Em homilia feita ontem na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro, João Paulo 2º reiterou de forma inequívoca a posição da igreja em favor da indissolubilidade do casamento.
O papa afirmou que é nesse princípio que se apóia "a instituição da família e toda a vida familiar". Disse ainda que "a igreja não cessa de apresentar em sua integralidade a doutrina de Cristo sobre o matrimônio, no que se refere a sua unidade e indissolubilidade".
Ao insistir na ortodoxia, João Paulo 2º frustrou os que esperavam ao menos uma "abertura" em direção aos católicos separados, que, segundo alguns de seus anfitriões brasileiros, seriam autorizados, a partir de agora, a receber certos sacramentos.
Foi no entanto em sentido oposto que o papa conduziu sua pregação. Tomou como base o primeiro milagre produzido por Cristo -a transformação da água em vinho-, efetuado numa cerimônia de casamento em Canaã.
Isso basta, afirmou em sua homilia (pregação do Evangelho em estilo familiar) de 23 minutos, para demonstrar o vínculo entre o matrimônio indissolúvel e o início da atividade messiânica de Jesus.
A missa, iniciada às 9h, foi reservada a cerca de 4.000 pessoas credenciadas pela Cúria Metropolitana do Rio, aos representantes do Congresso Teológico-Pastoral e aos participantes do 2º Encontro Mundial da Família, que o próprio papa encerrou anteontem.
Uma segunda missa, desta vez ao ar livre e aberta a toda a todos os católicos cariocas, será celebrada hoje no Aterro do Flamengo.
Mesmo em se tratando de uma cerimônia fechada, com detectores de metais instalados nas três entradas principais da catedral, só foram admitidos convidados que que trouxessem ao pescoço crachás com nome e fotografia.
Havia, por exemplo, 360 lugares reservados a bispos e 22 a cardeais. Todos eles, ao chegarem à catedral, dirigiam-se à sacristia onde cobriam suas batinas negras com casulas (paramentos de cor clara).
Havia ainda pilhas de mitras, que variavam do tamanho 56, para bispos de cabeça menor, a 61, para bispos de cabeça maior.
6.000 hóstias
Para a comunhão, os organizadores encomendaram 6.000 hóstias, que receberam dois litros e meio de vinho em 420 âmbulas, um vaso de metal dourado.
O papa deu a comunhão, pessoalmente, a um grupo de 50 fiéis. O primeiro deles, Pedro, foi um garotinho de sete anos, portador da síndrome de Down.
Entre os demais, todos muito bem vestidos, contrastava Eduardo Emílio, 14, menino de rua e representante da população socialmente marginalizada.
Também receberam a hóstia das mãos de João Paulo 2º uma família considerada exemplar: Gilmar Nogueira da Silva e Fátima Gonçalves de Souza têm seis filhos, e o sétimo deve nascer em dezembro.
Os representantes dos sem-teto, amparados por uma das pastorais cariocas, ocupavam 21 lugares num dos quatro setores previamente mapeados.
José Luís da Silva Braga, 30, era um deles. Mora na rua desde os 7. Mas não se considera religioso. Não era o caso de Orlando Dias, 36, que afirma ser católico e desejoso de pedir ao papa "mais emprego e o fim da miséria no Brasil".
A catedral -um prédio de concreto em forma de cone, com com construção iniciada em 1964 e concluída em 1979- também abrigou durante a missa Maria do Carmo Jerônimo, de 126 anos, mineira de Itajubá, e talvez a mais idosa das brasileiras.
Mas ela não ficou até o final da missa. Sentiu-se mal. Foi retirada pela enfermeira que a acompanhava em sua padiola.
O cardeal-arcebispo do Rio, d. Eugenio de Araújo Sales, pediu para que um de seus bispos-auxiliares corresse atrás dela e a presenteasse com uma medalha dourada e um terço de pérolas, dois objetos que o papa abençoou.

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