São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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Para revista evangélica, papa tenta conter 'debandada' de fiéis no país

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

A revista evangélica "Vinde" traz na edição de setembro uma reportagem de capa com críticas à visita do papa João Paulo 2º ao Brasil.
Na capa, a revista pergunta: "O que traz o papa ao Brasil?". A resposta vem logo abaixo: "O crescimento dos evangélicos assusta o Vaticano".
A reportagem interna -que tem o título "Pastor sem rebanho"- afirma que o motivo real da visita de João Paulo 2º não seria o "2º Encontro do Papa com as Famílias", mas o crescimento dos evangélicos, que estaria diminuindo o número de católicos.
A "Vinde" tem circulação nacional e tiragem de 65 mil exemplares. O presidente do seu conselho editorial é o pastor Caio Fábio.
Ele ficou famoso por sua atuação social em áreas carentes do Rio de Janeiro e por sua proximidade com o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que morreu em agosto passado.
O pastor Caio Fábio é também presidente da Associação Evangélica Brasileira.
Debandada
A reportagem começa afirmando que o "papa João Paulo 2º volta ao Brasil para tentar conter a debandada de fiéis no maior país católico do mundo".
Em outro trecho, diz que o papa é "uma pálida imagem do líder jovial que conquistou o coração de milhões de brasileiros" em suas outras visitas.
A "Vinde" destaca ainda que "8 mil católicos batizados abandonam a igreja por dia", citando "dados da própria instituição".
A reportagem ainda apresenta dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que apontam que, em 1980, quando o papa veio a primeira vez ao Brasil, havia 4,8 milhões de evangélicos no país. Hoje, seriam 18 milhões.
Afirma também que o catolicismo cresceu 22%, contra "nada menos" que 375% dos evangélicos.
Para a revista, a crise da Igreja Católica também fez cair o número de padres.
Outro lado
O padre Fernando Altemeyer, assessor de imprensa da Arquidiocese de São Paulo, contestou a reportagem da "Vinde".
"O papa não vem ao país por conta das seitas. Ele está preocupado mesmo com a família, com os casamentos no Brasil", afirmou Altemeyer.
Segundo o assessor, a preocupação do papa é fundamentada em números. "Em 76, aconteceram 21.530 casamentos na Arquidiocese de São Paulo. Em 96, foram apenas 12.069", diz.
Ainda segundo o padre, na Arquidiocese do Rio, no mesmo período, esse número caiu de 23.041 para 8.408.
Altemeyer afirmou ainda que o papa não fará nenhuma declaração ou sermão sobre os evangélicos. "A reportagem não corresponde à verdade", declarou.
Menos padres
Altemeyer afirmou ainda que não diminuiu o número de padres no Brasil, apesar de reconhecer que o crescimento nos últimos anos não foi proporcional ao aumento da população.
"Em 1970, havia 36.991 padres no Brasil. Em 95, eram 39.349. Hoje esse número subiu mais um pouco", afirmou o assessor de imprensa da Arquidiocese.

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