São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
Texto Anterior | Índice

Diretor de fundo vítima de grampo deve ser afastado

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O diretor financeiro do fundo de pensão Real Grandeza (dos funcionários de Furnas Centrais Elétricas), Júlio Porto, deverá ser afastado do cargo que assumiu há pouco mais de dois meses, depois de uma negociação em troca de votos em favor do projeto de reforma administrativa na Câmara dos Deputados.
Porto teve seus telefones grampeados, junto com dois amigos. Duas fitas -contendo suspeitas de irregularidades- foram entregues ao Palácio do Planalto em setembro passado, em meio a pressões para demitir o diretor financeiro do Real Grandeza, conforme a Folha publicou ontem.
As pressões partiram dos próprios deputados do PPB que haviam patrocinado a indicação.
E começaram antes mesmo da posse de Porto à frente do fundo, que registrava patrimônio de R$ 1,078 bilhão em agosto.
Segundo a Folha apurou, a manutenção do diretor no cargo tornou-se insustentável não por conta das pressões do PPB, mas porque ele perdeu a confiança do secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge Caldas Pereira, avalista da indicação.
Em trechos das fitas a que a Folha teve acesso, Porto cita várias vezes o nome de Eduardo Jorge.
Sem saber que estava sendo gravado, Porto relatou conversas que manteve com o secretário no Palácio do Planalto. Nesses relatos, Porto dizia que contava com a confiança de Eduardo Jorge e que estava fortalecido no governo.
"Para você ter uma idéia, o Eduardo Jorge e o Cláudio me receberam três vezes hoje. Os dois ficaram comigo mais de uma hora", disse em uma conversa com sua mulher que foi gravada.
Eduardo Jorge tinha mesmo intenção de ignorar as pressões do PPB, até receber as duas fitas com escutas telefônicas em aparelhos de Porto, Marcos Tosta de Sá, presidente da Prevab (fundo de pensão do extinto BNH) e Haroldo Faria, primo do chefe de gabinete de Eduardo Jorge, Cláudio Faria.
O tom dos relatos irritou o secretário-geral, que vinha resistindo às pressões para demitir o ex-colega de adolescência e funcionário aposentado de Furnas.
Santo Inácio
Eduardo Jorge e Júlio Porto formaram-se no segundo grau pela mesma turma do colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro. Na mesma turma, formou-se também o ministro Pedro Malan (Fazenda).
A ligação entre Porto e Eduardo Jorge foi um dos motivos apontados por parlamentares do PPB para pedir que o Planalto reconsiderasse a indicação que o próprio partido havia feito.
Eles avaliaram que não poderiam exercer plenamente o apadrinhamento da filiação e que Porto seguiria exclusivamente orientações do secretário-geral.
Embora as fitas com o resultado da escuta telefônica tenham sido entregues ao Palácio do Planalto há três semanas, Júlio Porto deverá permanecer por mais algum tempo à frente do Real Grandeza.
Segundo a avaliação do Planalto, não há indícios de que Porto tenha cometido irregularidades à frente do fundo em pouco mais de dois meses de gestão.
Auditoria prévia realizada no fundo de pensão não constatou nenhuma irregularidade.
As nomeações para as diretorias dos fundos são cobiçadas por políticos e parlamentares porque as entidades movimentam cerca de R$ 91,8 bilhões por mês. Desse total, cerca de R$ 72 bilhões são movimentados por fundos de estatais.

Texto Anterior: O risco está em 98
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.