São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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'Mega El Niño' é novo risco para a Amazônia

Queimadas interferem no clima

ANDRÉ LOZANO
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS

A Amazônia poderá se tornar, no futuro, uma Indonésia -devastada por queimadas e sujeita a alterações climáticas inéditas, como o surgimento de nuvens de fumaça- caso o governo não abra os olhos para os problemas da região.
Essa é a análise de Philip Fearnside, pesquisador do Departamento de Ecologia do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
Na Indonésia, o fogo já atingiu 7.000 km2, área equivalente a um terço do Estado de Sergipe, provocando uma nuvem de fumaça que atingiu mais cinco países do Sudeste Asiático -Tailândia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Brunei. Estima-se que 50 mil pessoas estejam sofrendo de problemas respiratórios causados pela fumaça.
"As condições da Indonésia -que há muito tempo tem exploração de madeira e queimadas na floresta, práticas que podem ser agravadas com o efeito El Niño- se assemelham às do Brasil. A diferença é que a devastação na Indonésia está em um estágio mais avançado", disse Fearnside.
"O Brasil deveria aprender com os efeitos nocivos na Indonésia e se prevenir, se estruturar. Isso depende de vontade pública", diz.
Segundo o pesquisador, há pelo menos quatro fatores que interferem negativamente na Amazônia: a exploração desenfreada da madeira, as queimadas na floresta, o efeito El Niño e o efeito estufa.
Os dois últimos são fenômenos que atingem todo o planeta, mas que podem ser agravados em regiões devastadas.
A Amazônia não chegou ao nível de devastação da Indonésia, mas caminha aos poucos para isso.
Segundo Fearnside, em 94, foram detectados 470 mil km2 de desmatamento na Amazônia, quase 12% da área total da floresta, de 4 milhões de km2.
Não há dados mais recentes. Mas, diz o pesquisador, a taxa anual de desmatamento na floresta é de 14,9 mil km2. De acordo com essa estimativa, fecharíamos este ano com um total de 514,7 mil km2 devastados na Amazônia.
Toneladas de carbono
O desmatamento interfere diretamente no efeito estufa, pois o gás carbônico e outros gases (produzidos na combustão) são lançados na atmosfera, interferindo na camada de ozônio.
Segundo Fearnside, os fazendeiros que praticam queimadas ocasionam a emissão de gases prejudiciais na atmosfera equivalente ao que 3.000 cidadãos lançam, a cada ano, utilizando veículos e acendendo fogões, por exemplo.
Esses fatores contribuem para a diminuição das chuvas, que somada a uma inversão térmica ocasional, em um ano de atuação do El Nino, pode gerar o equivalente a um "mega El Niño".

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