São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morte por Aids em analfabeto recua menos

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

O coquetel anti-Aids conseguiu aumentar a sobrevida das vítimas do HIV na cidade de São Paulo, mas seus efeitos são diferentes de acordo com a classe social e local de residência do doente.
O recuo das mortes por Aids foi três vezes menor entre os analfabetos do que nas pessoas com nível superior. É o que mostra levantamento divulgado pelo Pro-Aim na semana passada.
O relatório do Programa de Aprimoramento das Informações sobre Mortalidade no Município de São Paulo levantou as mortes causadas pelo HIV desde 1991, mas foi entre 96 e o primeiro semestre deste ano que ocorreram as maiores mudanças.
Comparando o primeiro semestre do ano passado e o deste ano, o estudo mostra que a maior queda (54%) no número de mortes por Aids ocorreu no grupo de pessoas que cursaram até o 3º grau.
A diminuição foi três vezes maior que a dos analfabetos (18%). No geral da cidade de São Paulo, a queda nas mortes pela doença foi de cerca de 30%.
Na periferia e nos bairros mais pobres, onde a média da escolaridade dos pais de família é mais baixa, a epidemia recua com mais dificuldade. "Informação é essencial para poder tomar os remédios e lutar contra a doença", afirma o infectologista Caio Rosenthal.
Pobreza e Aids
Médicos afirmam que a maior causa de falência dos tratamentos de pessoas com Aids é a pobreza. Um doente tem, em média, que tomar dezenas de comprimidos por dia. Cada um segue um ritual diferente. Por isso, é essencial que os doentes estejam bem alimentados e saibam ler (bulas, receituários).
O levantamento do Pro-Aim também analisou as mortes pelas diferentes regiões da cidade. Esse resultado também deixa claro a persistência da epidemia nas classes menos favorecidas.
Nas regiões onde há maior escolaridade em São Paulo, a queda das mortes por Aids foi de 47%, quase o dobro da diminuição (25%) nas áreas onde os níveis educacionais são menores.
Em relação à ocupação, as donas-de-casa foram as que tiveram a menor queda. Apenas 12%. Já as profissões técnicas e científicas registraram redução de 44% de mortes em decorrência do vírus HIV.
Mortes/bairros
A mesma pesquisa levantou as mortes por bairros da cidade. O relatório mostra que o maior recuo das mortes foi no centro, o que pode ser um indício de que a região está se beneficiando mais dos novos remédios.
Entre 1994 a 1997, o centro foi o recordista em mortes por HIV. Do total de mortes da região, 7% morreram em consequência da Aids.
O percentual foi o dobro de regiões como o Campo Limpo e Santo Amaro, ambas na zona sul da cidade.
Em 1997, o quadro muda. No centro, o percentual de mortes por Aids em relação ao total passa a 4,02%, empatando com regiões como Pirituba e Santana/Tucuruvi/Nossa Senhora do Ó, nas zonas noroeste e norte da cidade.
Em 1994, os percentuais de mortes por HIV em relação ao total nessas regiões foram, respectivamente, 4,67% e 5,09%.

Texto Anterior: Amigo vira marido sem amor
Próximo Texto: Adiante seu relógio 1h à meia-noite de hoje
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.