São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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Globo corta programação de TV a cabo em SC

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

A Globo acaba de tomar uma decisão inédita no mercado de TV paga: suspendeu o fornecimento dos canais Globosat à empresa de TV a cabo BTV, de Blumenau, para facilitar a entrada de sua sócia RBS naquela cidade.
Durante cinco anos, a BTV foi a única operadora de TV a cabo de Blumenau (SC). Enquanto não teve concorrentes, ela conseguiu crescer e chegar a 18 mil assinantes, sem se vincular aos dois grandes grupos que dominam o mercado de TV paga no Brasil: os sistemas Net e TVA.
Existem mais duas concessões de TV a cabo na cidade, mas elas ficaram praticamente inativas durante todo esse tempo.
Uma delas pertence à Net Sul, empresa formada pela RBS (65%) e pela Globocabo (35%), que vem a ser o braço das Organizações Globo nos investimentos em redes de TV a cabo.
A outra está nas mãos da TVA Sul, a qual, por sua vez, tem 87% do capital em poder da Tevecap (grupo Abril com sócios estrangeiros). Os outros 13% pertencem ao empresário Leonardo Petrelli.
Como operadora independente, a BTV fornecia um cardápio diversificado a seus clientes. Comprava tanto os canais comercializados pela TVA (distribuidora de programação do grupo Abril) quanto os da Net Brasil (distribuidora formada pelos grupos Globo, RBS e Multicanal).
Mudança
A realidade mudou a partir de terça-feira passada, quando a Net Brasil cortou o acesso da BTV aos canais produzidos pela Globosat: Sportv, Telecine, Multishow e GNT.
A Globo tomou tal decisão porque a Net Sul, da qual é sócia, acaba de inaugurar sua própria TV a cabo em Blumenau e, daqui por diante, vai disputar o mercado com a BTV.
A medida teve impacto negativo entre as operadoras independentes que sobreviveram ao processo de concentração ocorrido nos últimos anos.
A Globo é sócia em 48 operações. Entre elas estão a Net Brasília, Net Rio e Net São Paulo, das quais é controladora.
Houve surpresa do mercado diante do ocorrido em Blumenau porque por trás da BTV está um dos maiores grupos empresariais do Paraná: a Inepar, que tem 69% do capital daquela empresa.
A Inepar tem também uma TV a cabo em Londrina (PR) -em parceria com a TV Paranaense, afiliada local da Globo- que é franqueada do Sistema Net. Esse fato fez aumentar ainda mais o espanto diante da decisão da Globo.
Até sexta-feira à noite, a Inepar se recusava a comentar o episódio. Seu silêncio mostra que a empresa ainda acredita que haverá um desfecho favorável.
O rompimento do contrato da Net com a BTV foi interpretado como uma nova forma de controle do mercado por parte dos grandes grupos: o domínio a partir do acesso à programação.
Até agora, dizem os especialistas, os grupos Globo e Abril -a Globo em maior escala- dominaram o mercado comprando ou se tornando sócios das empresas que receberam gratuitamente as concessões durante o governo Collor.
O sistema Net tem 69,2% dos 2,3 milhões de assinantes de TV paga do país. A TVA e seus associados têm 25,2% e os independentes respondem por 5,6%. Os dados estatísticos são da Pay-TV Survey, de São Paulo.
Segundo os pequenos operadores de TV a cabo, a Net e a TVA conseguem controlar o mercado a partir da programação porque se tornaram uma espécie de atacadistas da programação.
As programadoras estrangeiras -como Fox e Turner- dão descontos proporcionais ao número de assinantes de cada cliente. O sistema Net, com seu 1,6 milhão de assinantes, tem acesso aos canais a preço muito menor do que um pequeno operador e repassa o desconto às suas afiliadas.
Por exemplo: o Playboy Channel, que é comercializado no Brasil pelo grupo Cysneros, custa US$ 4,50 por assinante para uma TV a cabo em início de operação. O preço cai para US$ 3,50 por assinante se o operador tiver pelo menos 10 mil assinantes.
Lei
A Lei da TV a cabo, aprovada em janeiro de 1995, não garante o livre acesso à programação, ou seja, as distribuidoras Net e TVA podem se recusar a vender sua programação a um operador independente.
"A Net é uma empresa privada e tem direito de vender sua programação para quem ela quiser", disse o diretor da Globocabo, Moysés Pluciennik, ao ser questionado sobre o rompimento do contrato com a TV de Blumenau.

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