São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997 |
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Correnteza
MARILENE FELINTO
A gente mesmo leva a existência sobressaltada dos ciganos. Sem terra, vivem nas tendas em constante vigília pela frente e por toda a retaguarda. É o mundo bruto da questão agrária. Para enfrentá-lo, cabelo curto, muita calça comprida e botina. Essa é Diolinda, metade meiguice, metade dureza. Entre enxadas e foices, o cabelo curto, "que não caia, que não atrapalhe a minha cara". Ela aparece, tem visibilidade aqui e na Holanda, onde se impressionou (em recente viagem à Europa) com as putas exibindo-se feito mercadoria nas vitrinas das lojas-prostíbulos. Aqui, só neste ano, seu nome foi impresso 60 vezes em um único dos grandes jornais do país. São cinco vezes por mês. Entre tratores e estrovengas, pelos pastos inúteis de Sandovalina, de novo Diolinda. A roupa é a estopa grossa do jeans, sem gatimanhos, sem frescura, que acampamento é coisa para mulher com M maiúsculo, companheiras, quer dizer... madames, quer dizer... dondocas. Muitas já imitam o corte e a intuição da líder inculta, que largou os estudos pelo movimento. Nas reuniões em Teodoro Sampaio, "capital da reforma agrária", impõe-se a fala simplória, quase ingênua, mas que enfrenta o pernosticismo dos tribunais, a astúcia das televisões. Diolinda faz moda, vira modelo para multidões, formando uma espécie de outra coluna social. Como o rio, que é manso, mas arrasta pedras se a chuva é de enxurrada, companheiras, quer dizer... pirilampas. Texto Anterior: Coluna Joyce Pascowitch Próximo Texto: Mistérios do bom e do mau Índice |
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