São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997 |
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"Raio X" portátil
RICARDO ZORZETTO
O protótipo de um equipamento portátil do tamanho de uma lanterna já permite detectar a presença de pessoas atrás de portas e de paredes de concreto. Ele vem sendo desenvolvido pelo pesquisador norte-americano Gene Greneker, do Instituto de Tecnologia da Geórgia (GIT), nos EUA. A lanterna-radar, como vem sendo chamado (do inglês "radar flashlight"), emite uma quantidade muito pequena de radiação eletromagnética e é capaz de detectar a respiração de uma pessoa parada a 1,22 m de distância atrás de uma parede. O nível de radiação emitida pelo aparelho é o mesmo dos sensores de portas automáticas. "Isso é dez vezes menor do que a quantidade que uma pessoa recebe em frente a um forno microondas", explicou o pesquisador em entrevista por telefone à Folha. Onda eletromagnética O principal objetivo de Greneker é desenvolver um decodificador de sinal, incorporando tecnologia de processador de sinal de alta velocidade, e visor pequenos o suficiente para caber numa armação de uma lanterna, com custo estimado em torno de US$ 500. Atualmente, os objetos captados pela lanterna-radar são vistos na tela de um computador. Greneker acredita que para chegar à forma final do projeto seja necessário mais um ano de pesquisa e testes. Ele já obteve a patente provisória do produto e atualmente busca parceria de investidores que se proponham a desenvolver a lanterna-radar portátil. "Com uma laterna-radar, o policial que atender a um chamado poderá saber se há alguém atrás da porta pronto para atirar", explica o pesquisador. "Numa revista aos cômodos de uma casa, ele não precisa abrir a porta e se expor." No aparelho, um transmissor, localizado no interior da lanterna, emite uma quantidade muito pequena de radiação eletromagnética (semelhante a de fornos microondas). Essa radiação atinge os objetos, é refletida e é detectada na volta por um receptor na lanterna. Um processador de sinal decodifica a onda eletromagnética que chega e emite para uma tela de computador, onde são visualizados os movimentos. Se a onda encontra um objeto estático, ela retorna com a mesma frequência com que foi emitida. Quando ela se reflete em algo em movimento, ela volta com frequência diferente. Essa diferença entre as frequências é conhecida como efeito Doppler. Como a respiração de cada indivíduo tem um padrão, ela é considerada um tipo de assinatura. Invenção acidental A idéia de projetar a lanterna-radar, surgiu ao acaso, quando Greneker testava um outro protótipo que desenvolvia para monitorar batimentos cardíacos de atletas nas competições de arco e flecha e tiro durante as Olimpíadas de 1996 à distância de até 15 m. Acredita-se que esses competidores sintam seus batimentos cardíacos e sejam capazes de desferir o tiro no intervalo entre as contrações do coração, para evitar movimentos do corpo. O pesquisador estava testando o aparelho em seu laboratório, quando percebeu que conseguia captar a presença de pessoas do lado de fora da sala. Os primeiros estudos que resultaram na lanterna-radar foram realizados em 1986. Naquele ano, pesquisadores do GIT começaram a desenvolver um radar para a verificação remota de sinais vitais de soldados feridos em campo de batalha. A finalidade era evitar riscos desnecessários para a vida dos médicos. O primeiro equipamento projetado tinha alcance de 100 m. A versão do aparelho para detectar batimentos cardíacos pode ser muito importante se for demonstrado que cada pessoa possui um padrão de batimentos cardíacos estável. Isso ainda é um grande desafio, pois a quantidade de ruído que uma pessoa em movimento produz é de 1.000 a 10.000 vezes o dos batimentos cardíacos. Texto Anterior: Descoberta deve trazer avanços na luta contra a Aids Próximo Texto: A lanterna-radar em ação Índice |
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