São Paulo, segunda-feira, 6 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em "megamissa" no Rio, papa defende casamento e fidelidade

JOÃO BATISTA NATALI; CRISTINA GRILLO; FERNANDA DA ESCÓSSIA; IGOR GIELOW; LUIS HENRIQUE AMARAL; SERGIO TORRES; MÁRIO MOREIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Em missa realizada ontem no Aterro do Flamengo, o papa João Paulo 2º retomou a defesa dos valores familiares -oposição ao divórcio e defesa da fidelidade conjugal- que marcou os pronunciamentos da sua terceira visita ao Brasil.
Falando a cerca de 2 milhões de pessoas, o papa retomou o mesmo trecho do Novo Testamento em que baseou o pronunciamento da véspera, durante a missa na Catedral Metropolitana, para um público bem menor, de 5.000 pessoas.
Nele, interrogado por judeus, Jesus contestou que o homem possa repudiar sua mulher. Ao celebrarem o matrimônio, o homem e a mulher transformam-se "na mesma carne". Assim, "o que Deus uniu, o homem não pode separar".
A homilia (pregação do Evangelho em estilo familiar) foi de certo modo o único momento em que a missa deixou em suspenso a predominância de uma espécie de espetáculo alegre, comandado pelos 1.300 jovens do coral das paróquias cariocas.
Eles agitavam os braços e movimentavam o corpo dentro de pequenas batas amarelas e brancas -cores do Vaticano.
Paramentado com a cor predominantemente verde, usada para o que os católicos chamam de "tempo comum" (período sem celebrações especiais, como Páscoa ou Natal, por exemplo), o papa estava protegido do calor. Três aparelhos de ar-condicionado funcionavam na parte do altar ocupada por João Paulo 2º, mantendo a temperatura do local em torno de 24 graus.
Embaixo, bombeiros usaram jatos de água para refrescar a multidão. As pessoas que procuraram ficar mais próximas do altar chegaram ao Aterro anteontem.
Atendimentos médicos
O sol que brilhou num céu sem nuvens no Rio aumentou os efeitos do calor, que chegou a 28,6 graus à sombra, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia.
A Secretaria Municipal da Saúde registrou 2.552 atendimentos por insolação ou problemas mais graves. Houve uma parada cardiorrespiratória, um traumatismo craniano e nove suspeitas de infarto. No total, 128 pessoas precisaram ser internadas.
A superlotação do parque do Flamengo prejudicou o atendimento às pessoas que passavam mal. As ambulâncias só conseguiam atravessar a multidão com a ajuda de batedores da PM (Polícia Militar).
Quase todos os casos registrados até o fim da missa campal eram de hipoglicemia (taxa de glicose no sangue abaixo do normal, provocada muitas vezes por falta de alimentação), desidratação, por causa do calor, e queda de pressão arterial.
Muitos fiéis chegaram ao parque na tarde de sábado e esperaram mais de 12 horas pelo início da missa.
"Com tanto calor, fome, sede, aperto, mais a emoção da missa, muita gente não aguentou", disse o médico Eduardo Santiago, coordenador de um dos postos.
"Moldes rígidos"
O presidente da CPT (Comissão Pastoral da Terra), o bispo d. Tomás Balduíno, criticou a missa celebrada pelo papa.
"Ela seguiu moldes rígidos. Faltou uma expressão mais popular. Deveria ser menos ritual, solene, gregoriana", disse.
Segundo d. Balduíno, essa opinião foi compartilhada por outros bispos. Para o presidente da CPT, a missa deveria propiciar um "contato mais direto" do papa com os fiéis.
O bispo de Santo Amaro, d. Fernando Figueiredo, discordou: "o povo participou com as bandeirinhas, foi ótimo".
Barrados
Antes do início, um grupo de cardeais e bispos ficou barrado por cerca de meia hora em um dos locais de acesso à área restrita montada para a celebração da missa.
Parte dos religiosos do grupo não havia recebido a credencial específica para a missa.
Apesar de estarem com a credencial expedida pela PF -que continha nome e foto- e de estarem paramentados, os bispos tiveram o acesso vetado por agentes federais.
O impasse só foi resolvido quando o delegado da PF Celso Soares, responsável pelo esquema de segurança, autorizou a entrada dos religiosos.
(JOÃO BATISTA NATALI, CRISTINA GRILLO, FERNANDA DA ESCÓSSIA, IGOR GIELOW, LUIS HENRIQUE AMARAL, SERGIO TORRES e MÁRIO MOREIRA)

Texto Anterior: Edir Macedo prega aborto legal em MG
Próximo Texto: Roberto Carlos é abençoado e se emociona
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.