São Paulo, segunda-feira, 6 de outubro de 1997
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Disputa pela CPFL mobiliza dez grupos

MAURO ARBEX
DA REPORTAGEM LOCAL

A um mês do leilão da Companhia Paulista de Força e Luz, pelo menos dez empresas do Brasil e do exterior estão se articulando para comprar a estatal.
A CPFL, como é conhecida, interessa a grupos nacionais de peso, como Votorantim, Bradesco e Camargo Corrêa, e a gigantes estrangeiras, como Enron e Houston, norte-americanas, EDF (Electricité de France), da França, Chilectra, do Chile, e Tractebel, da Bélgica.
O grande interesse pela CPFL, que fornece energia a uma das regiões com maior potencial de crescimento, o interior de São Paulo, leva especialistas a prever que o preço mínimo -R$ 4,3 bilhões- será facilmente superado no leilão marcado para 5 de novembro.
"Não será nenhuma surpresa se houver um ágio grande na venda", afirma Sérvulo Lima, analista do setor de eletricidade do banco Bozano, Simonsen.
Ele lembra que o ágio na venda das grandes distribuidoras de energia do país vem se tornando fato corriqueiro.
A Cerj (Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro), por exemplo, foi privatizada no ano passado com um ágio de 30% sobre o preço mínimo e a Coelba, da Bahia, vendida neste ano com ágio de 77%.
A Tractebel, empresa belga com sede em Bruxelas, que atua na geração e distribuição de energia, confirma o interesse na CPFL.
Segundo Maurício Bahr, diretor da Tractebel, que montou escritório no Rio, "temos interesse e estamos estudando. No momento certo, vamos nos decidir". A empresa opera em 15 países e fatura cerca de US$ 11 bilhões por ano.
A Light dá como certa a sua participação no leilão. A empresa, que atua no Rio e foi privatizada em 1996, é controlada pela EDF, Houston Energy e AES (empresas norte-americanas), CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e BNDESpar, subsidiária do BNDES.
Consórcio, uma opção
Conforme Carlos Pousa, chefe da assessoria de comunicação e meio ambiente da Light, "ainda não sabemos se entraremos sozinhos ou associados na disputa, mas a intenção é participar". A Light já estaria discutindo com outras empresas, com o objetivo de formar um consórcio.
A CPFL, lembra, atua numa das regiões mais ricas do país e com grande potencial de crescimento no consumo de eletricidade.
"Além disso, tem um mercado estável e uma das menores perdas de energia entre as empresas elétricas", disse Pousa.
Outro "peso-pesado" cuja participação é tida como certa é a VBC Energia, empresa criada pelos grupos Votorantim, Bradesco e Camargo Corrêa para atuar no setor de energia.
A VBC está construindo, associada a Furnas Centrais Elétricas, do Rio de Janeiro, a usina de Serra Mesa, no rio Tocantins, com capacidade prevista de 1.275 megawatts.
A Folha apurou junto à VBC que o interesse na CFPL se deve ao grande potencial de geração de negócios da estatal paulista.
A Enron, uma das maiores empresas dos EUA no transporte e venda de gás natural e que opera em 20 países, também deve entrar na disputa pela distribuidora paulista, segundo seu presidente no Brasil, James Bannantine.
A Enron foi vencedora do leilão de venda da CEG (companhia que distribui gás no Rio) e, na semana passada, ganhou a licitação para construir uma linha de transmissão de 400 quilômetros ligando o Brasil à Argentina.
Disputa acirrada
O governo paulista aposta numa disputa acirrada pela CPFL. Para o secretário estadual de Energia de São Paulo, David Zylbersztajn, "a empresa é, seguramente, a que tem melhor estrutura de mercado do país".
Na área de concessão da estatal -que engloba regiões ricas do interior paulista, como Ribeirão Preto, Campinas e Araraquara-, o crescimento da demanda de energia, conforme Zylbersztajn, é de 5% a 6% ao ano.
"É na área de atuação da CPFL que ficará grande parte do gasoduto Brasil-Bolívia e da hidrovia Tietê-Paraná, que serão grandes focos de geração de negócios", afirma.

LEIA MAIS sobre privatização da CPFL à pág. 2-4

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