São Paulo, segunda-feira, 6 de outubro de 1997
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Depoimentos revelam pré-história punk

RANIERI MAIA RIZZA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Atitude contrapondo a estética. Nova York no lugar de Londres. Sai Malcolm McLaren, entra em cena um garoto de 18 anos chamado Legs McNeil. Originalmente, The Stooges e Ramones, e não os Sex Pistols.
A cena punk pode ser revisitada, ou melhor, descoberta, em "Mate-me Por Favor - Uma História Sem Censura do Punk (Please Kill Me)", de Legs McNeil e Gillian McCain, que a L&PM Editores está colocando no mercado.
O livro enfoca aquilo que os ingleses chamam de pré-punk, que é a cena americana de bandas que influenciou Sex Pistols, Clash e outros detonadores do punk na Grã-Bretanha. Na verdade, é mais um capítulo na disputa entre os dois países pelo título de berço do punk.
Uma compilação de entrevistas, "Mate-me Por Favor" inicia antes de Legs McNeil ter dado o nome de "Punk" à revista que estava lançando na Nova York daquele ano de 1975, um antes de McLaren virar empresário dos Sex Pistols e "criar" o movimento na Inglaterra.
No final dos anos 60 e início dos 70, estão lá Iggy Pop, Lou Reed, New York Dolls, Andy Warhol e seu séquito, entre outros.
David Bowie não se limitou a ser influenciado pela androginia de "Pork", a peça dirigida por Warhol, para a construção de seu personagem Ziggy Stardust e declarou sua bissexualidade ao jornal "Melody Maker". Segundo Angela Bowie, sua mulher na época, isso não teria sido possível se ele não andasse com Iggy Pop e Lou Reed.
Essa era uma das atitudes da chamada "blank generation" (geração vazia), que tinha como consequência um visual "entediado, marcado, sujo, com uma camiseta rasgada", assim como Malcolm McLaren definiu Richard Hell, ex-baixista do grupo Television.
"Fiquei completamente puto quando ouvi 'Pretty Vacant', dos Sex Pistols, pela primeira vez. Malcolm tinha roubado toda a atitude de 'Blank Generation', a música", desabafa Hell, autor da música.
Hell também foi o responsável pelo acontecimento que dá título ao livro. Em um show no Max's Kansas City, Hell emprestou para Richard Lloyd, guitarrista do Television, uma camiseta desenhada por ele, na qual estava escrito "Please Kill Me", com um alvo desenhado.
Após o espetáculo, alguns garotos o cercaram e disseram: "Se é isso que você quer, a gente ficará contente em obedecer, porque somos os maiores fãs!". Lloyd decidiu não usar mais a camiseta.
O CBGB's e o Max's Kansas City, assim como apartamentos, quartos de hotéis e camarins, são o cenário dos enlouquecidos relatos de músicos, empresários de bandas, fotógrafos, repórteres, groupies, musas e ex-namoradas.
Overdoses, esfaqueamentos, brigas, prisões e muito sexo, com direito a sadomasoquismo e coprofagia, fazem parte da narrativa.
Nancy Spungen, a groupie namorada de Sid Vicious, por quem supostamente foi assassinada em 1978, está presente, assim como Bebe Buel, ex-cantora, namorada de vários astros e mãe da atriz Liv Tyler. Mas o que prevalece é o relato de um movimento que teve seu fim decretado ao virar um modismo.

Título: "Mate-me Por Favor - Uma História Sem Censura do Punk (Please Kill Me)"
Autores: Legs McNeil e Gillian McCain
Tradução: Lúcia Brito
Lançamento: L&PM Editores (444 págs.)

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