São Paulo, segunda-feira, 6 de outubro de 1997
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Leonhardt mostra som original do barroco

LUIS S. KRAUSZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

O cravista e regente holandês Gustav Leonhardt, que se apresenta em São Paulo de hoje a quarta (na Sociedade de Cultura Artística, rua Nestor Pestana, 196, tel.011/256-0223), pode ser considerado um purista.
Com o austríaco Nikolaus Harmoncourt, foi, há mais de 40 anos, criador de uma linha de interpretação que busca restituir o som original às partituras barrocas.
Trata-se de um empreendimento que exigiu uma complicada transposição no tempo e no espaço, e para a qual esses dois grandes músicos contavam, ao iniciar sua pesquisa, com recursos escassos.
Na década de 50, conceitos que hoje se tornaram lugar-comum -como partituras barrocas originais, instrumentos de época autênticos e tratados de interpretação dos séculos 17 e 18- estavam relegados ao esquecimento.
Um lugar de onde Leonhardt e Harnoncourt os tiraram, levando-os, gradativamente, ao centro das atenções do mundo musical contemporâneo e provocando uma proliferação cada vez maior de grupos que, com maior ou menor sucesso, seguem a chamada linha de interpretação musical historicamente informada.
A mesma lógica de trabalho musical que norteou esses dois pioneiros tem sido aplicada, também, ao repertório mais recente, do classicismo e do romantismo e até mesmo dos compositores das décadas de 10 e 20 deste século, provocando o que poderia ser chamado de uma revolução musical.
Um resultado pelo qual esse holandês sóbrio, de temperamento afável e reservado, certamente não esperava ao se lançar em sua pesquisa pioneira, no início da década de 50. A seguir, a entrevista que concedeu à Folha de sua casa, num prédio histórico, ao lado dos canais de Amsterdã.
*
Folha - De onde surgiu sua idéia de criar uma nova linha de interpretação, historicamente informada, do repertório barroco?
Gustav Leonhardt - Quando eu era criança, estudava piano, mas na casa de meus pais havia também um cravo.
Eu sempre gostei muito da música de Bach ao piano, mas certo dia resolvi experimentá-lo no cravo e então descobri um mundo inteiramente diferente.
Quando tinha uns 15 ou 16 anos, cheguei à conclusão de que quando se toca Bach num piano moderno, alguma coisa está errada.
Foi o instrumento que primeiro me fez pensar. A partir daí, comecei meus estudos dos tratados de interpretação da época e das versões originais das partituras barrocas, que têm muitas diferenças com as modernas partituras editadas desse mesmo repertório.
Uma coisa foi levando a outra e até hoje minha interpretação está em evolução e aperfeiçoamento.
Folha - O programa de suas apresentações em São Paulo traz uma série de peças pouco conhecidas. Como foi escolhido?
Leonhardt - Pensei sobretudo no instrumento que estaria tocando, que é um cravo produzido por William Dowd, de Boston, pertencente a um cravista de São Paulo.
Como esse instrumento é uma réplica de um instrumento francês do século 18, inclui muitas peças desse período e lugar, deixando de lado compositores como Frescobaldi e William Byrd, cujas obras não são apropriadas para esse instrumento.
Folha - Há compositores e obras de qualidade do barroco que não sejam conhecidas do público?
Leonhardt - Surgem de tempos em tempos obras desconhecidas e atraentes de bons compositores, como as do espanhol Velasco de Nebra, recentemente descobertas.
Folha - O sr. tem novas gravações previstas?
Leonhardt - Há quatro discos meus em preparação: dois com cantatas seculares de Bach, um com obras de François Couperin e outro com peças de Mathias Wickmann.

Artista: Gustav Leonhardt
Quando: de hoje até quarta-feira, às 21h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 011/256-0223)
Quando: de R$ 25 a R$ 50

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