São Paulo, segunda-feira, 6 de outubro de 1997
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"Body" mostra o corpo na Austrália

JORGE BECHARA
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SIDNEY

A New South Wales Art Gallery, em Sydney, Austrália, produziu e está exibindo até 16 de novembro uma abrangente e polêmica exposição de 160 pinturas, esculturas, objetos, fotografias, vídeos e instalações sobre o corpo humano na arte ocidental.
"Body" mostra obras de 93 artistas de 50 instituições internacionais, entre as mais conceituadas galerias e museus, como o Centro Georges Pompidou e o Museu d'Orsay, de Paris, o Metropolitan Museum, de New York, o Stedelijk Museum, de Amsterdam, a National Gallery of Art, de Washington, além de coleções privadas.
A exposição, que levou três anos para ser realizada, não pretende chocar ou deslumbrar, mas provocar autocrítica no público.
A evolução da arte desde meados do século passado até hoje está representada pelo corpo em várias situações: nascimento, morte, sexo, dor, em movimento ou apático. Mas predominantemente nu e feminino.
O curador da exposição, Tony Bond, responsável pelo setor de arte ocidental da galeria, explica que não quis mostrar a beleza, erotismo ou exotismo do corpo humano. Sua intenção foi apenas expô-lo em sua normalidade para confrontá-lo com sua presença material, o corpo do próprio espectador.
Daí a presença apenas de obras que retratam o corpo com naturalidade, em situações normais cotidianas, públicas ou íntimas, e não artificiais. Por isso a ausência de obras clássicas e subjetivas.
Essa é a explicação para uma abrangente mostra de arte retratando o corpo humano sem obras de alguns mestres no assunto, como Leonardo, Michelangelo ou Rembrandt. Ou sem alguma referência às vitais representações do corpo criadas pelos gregos e romanos. Ou ainda sem a presença de artistas contemporâneos que desenvolvem seu trabalho em torno do assunto, como o fotógrafo Mapplethorpe.
Mas mesmo pretendendo deter-se em suas bases teóricas e na criação ocidental, a exposição se perde na abrangência de seu tema. O critério que selecionou as obras é essencialmente conceitual.
Quem não ler os herméticos ensaios do catálogo ou os cartazes nas seis salas da exposição, não entenderá o porquê das ausências ou a desordem cronológica. A ambiguidade dos temas que intitulam os grupos de obras, como "Voyerismo e Intimidade", "A Paisagem como Alegoria Sexual", "O Corpo Fragmentado" etc, não ajuda a entender o conjunto.
A maior polêmica do evento foi causada pela escultura do artista Marc Quinn, um molde de sua cabeça coberta com seu próprio sangue. Um problema no display refrigerado que guardava a obra fez com que o sangue começasse a derreter na sala de exposição.
O melhor da exposição deve-se à qualidade individual de obras de artistas como Schiele, Rodin, Renoir, Miró, Matisse, Manet, Gauguin, Otto Dix, Degas, Courbet, Bonnard, Balthus, Bacon e outros.
O pior está em peças que primam pela escatologia e que ali estão apenas por conterem alguma parte do corpo humano, ou algo que se refira ao tema.

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