São Paulo, segunda-feira, 6 de outubro de 1997
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PFL NA ENCRUZILHADA

Desde seu nascimento, o PFL desempenha na política brasileira o papel de partido da situação. A disposição com que apóia qualquer governo já faz parte do anedotário nacional e tem respaldo nos fatos. No entanto, parece haver hoje um projeto pefelista de estruturação da legenda, para que ela possa chegar ao poder não mais na condição de coadjuvante.
Criado em 1984 como dissidência do PDS, esteio do final do regime militar, o PFL aliou-se ao PMDB para levar Tancredo Neves à Presidência da República. Participou da Nova República de José Sarney na condição de sócio menor do PMDB. A seguir, em uma reforma ministerial, embarcou decididamente na canoa de Fernando Collor e, mais adiante, abocanhou alguns ministérios do governo Itamar Franco. Diante da polarização na sucessão de Itamar, isto é, a "ameaça" de Lula, o partido mais hábil em matéria de preservar-se no poder aliou-se ao PSDB e sustentou a nascente candidatura de Fernando Henrique Cardoso.
De raiz tradicionalmente regional e identificado com o fisiologismo e o clientelismo, o PFL procura, a partir das eleições de 94, mudar esse perfil e sua imagem. Desde então é nítida a tentativa do partido de diminuir sua dependência de adesões episódicas a governos para começar a se cacifar como núcleo do poder no futuro. Há alguns anos, o PFL vem-se expandindo nacionalmente, agregando quadros políticos que podem contribuir para reduzir os seus estigmas. Com isso, espera ganhar tanto estrutura eleitoral como respeitabilidade. A partir de 94, triplicou o número de governadores e se tornou o maior partido do Congresso.
Apesar de ter atraído figuras como o ex-prefeito César Maia, o governador Jaime Lerner, o presidente da Fiesp, Carlos Eduardo Moreira Ferreira, e o líder sindical Luiz Antônio de Medeiros, entre outros, o PFL cresce incorporando também políticos de menor gabarito, para dizer o menos, tais como o governador do Acre, Orleir Cameli.
O PFL talvez ganhe ainda mais força política e até ocupe posição hegemônica em futuras composições de poder. Mas, dividido entre a defesa -nem sempre clara- da bandeira liberal e a excessiva tolerância com o fisiologismo, o partido ainda não definiu uma identidade política e ideológica que lhe permita liderar um projeto viável para o país.

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