São Paulo, terça-feira, 7 de outubro de 1997
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ONG informa Clinton sobre mortos pela PM

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O Departamento de Estado dos EUA recebe esta semana relatório sobre a morte de 11 supostos traficantes pela PM do Rio.
O objetivo do relatório é fornecer ao presidente dos EUA, Bill Clinton, informações sobre a situação dos direitos humanos no Rio, que deverá visitar na semana que vem.
O relatório está sendo preparado nos EUA pela matriz da ONG Human Rights Watch, especializada na defesa dos direitos humanos.
A ONG entregará o dossiê à secretária de Estado do governo norte-americano, Madeleine Albright, que acompanhará Clinton.
As informações sobre a morte dos suspeitos são enviadas aos EUA pela representação brasileira da ONG, que também remeterá para países europeus notícias sobre supostas práticas de extermínio adotadas pela PM.
Na quinta, dia da chegada do papa João Paulo 2º ao Rio, policiais do 3º BPM (Batalhão de Polícia Militar) mataram cinco acusados de integrar quadrilha de traficantes da favela do Rato Molhado. Dois dias depois, homens do 3º BPM mataram seis supostos criminosos na favela Águia de Ouro.
A polícia registrou as 11 mortes como resistência. Os supostos criminosos teriam iniciado tiroteio.
Os locais das supostas trocas de tiros não foram periciados. A PM removeu os corpos para hospitais, sob a alegação de que as vítimas ainda viviam. Os baleados chegaram mortos aos hospitais.
O assessor técnico da Secretaria de Estado da Segurança Pública, tenente-coronel Milton Corrêa da Costa, disse à Folha não duvidar da veracidade da versão policial.
Para o diretor da Human Rights Watch no Brasil, James Cavallaro, as ações do 3º BPM são suspeitas. "Os últimos casos têm todas as marcas de execução sumária."
Cavallaro disse estar revoltado com as críticas do secretário estadual da Segurança Pública, general Nilton Cerqueira, às ONGs.
Cerqueira não quis falar à Folha sobre o assunto, mas seu assessor técnico atacou Cavallaro e a ONG.
"Os intelectuais dos direitos humanos devem ao Brasil explicações sobre a origem dos recursos que mantêm essas organizações."
A morte de 11 supostos traficantes coincidiu com a posse no 3º BPM do coronel Marcos Paes, recordista em confrontos que terminam com a morte de suspeitos.
Paes, 46, comandou o 9º BPM de janeiro de 95 a setembro deste ano. No período, 127 suspeitos foram mortos por PMs do batalhão.
Todas as mortes foram creditadas à resistência dos suspeitos. É a versão apresentada por Paes para justificar as 11 mortes. O coronel disse ontem que os policiais agiram de modo correto. O comandante disse que os homens sob seu comando não recebem orientação prévia para matar.
(ST)

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