São Paulo, quarta-feira, 8 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Comércio fica em 2º plano no encontro

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Os temas de maior destaque da visita do presidente Bill Clinton ao Brasil serão cooperação nas áreas nuclear e judiciária e programas comuns em educação e tecnologia.
Isso, claro, se os organizadores da viagem atingirem seu objetivo. Eles querem enfatizar a "agenda positiva" das relações de EUA e Brasil, não os seus problemas.
As discordâncias existentes na área de comércio, inclusive sobre a forma pela qual vai se construir a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) vão ficar em segundo plano. Pelo menos em público.
Como argumentava ontem, falando sobre a viagem, o secretário-assistente de Estado para assuntos interamericanos, Jeffrey Davidow: "Claro que há diferenças de abordagem (entre EUA e Brasil). Mas seria um grande erro confundi-las com diferenças políticas".
Via rápida
No que se refere às divergências sobre a Alca, o Brasil vai estar em posição confortável. Para o país, quanto mais tempo passar até se decidir algo sobre a Alca, melhor, porque enquanto isso o Mercosul se fortalece e a indústria nacional se prepara melhor para competir.
Os EUA querem acelerar o processo. Mas Clinton ainda não dispõe do instrumento legislativo que lhe confere autoridade para negociar depressa acordos comerciais, a chamada "via rápida" (fast track). Assim, ele não estará em condições de pressionar FHC.
Em temas comerciais específicos, também, o Brasil está em vantagem. É o país que pode agora reclamar do protecionismo do parceiro. Vários produtos brasileiros enfrentam barreiras para entrarem nos EUA, ao passo que o mercado brasileiro está basicamente aberto.
O Brasil é um dos poucos países importantes com quem os EUA têm superávit em sua balança comercial e este é um dado sempre lembrado nas conversações bilaterais, em benefício do Brasil.
Por isso, Alca é um assunto que estará na agenda de Clinton e FHC, mas nenhum dos lados tem interesse em realçar demais.
Já o acordo de cooperação nuclear que vai ser assinado é bom para ambos. Para os EUA, prova que suas posições no setor ganham aliados entre países importantes do Terceiro Mundo. Ao contrário da Índia, o Brasil agora é "confiável" nessa área estratégica.
Para o Brasil, significa ajuda em áreas como radiação de alimentos, ciência pura e, quando e se o Brasil quiser, a retomada do seu projeto de produção de energia nuclear.
O acordo de cooperação judiciária mútua vai ajudar a resolver inúmeros problemas burocráticos do dia-a-dia das relações entre os dois países. Também vai fazer com que aumente a repressão ao tráfico de armas dos EUA para o Brasil.
O ponto alto da viagem, pretendem os dois países, será na área de educação. Ainda não estão definidos programas específicos. Mas vai haver grande ênfase retórica no tema, como indicava Davidow ontem: "Haverá um compromisso conjunto com a educação e a tecnologia porque elas podem prover o hemisfério com o caminho para o progresso e desenvolvimento".
O Brasil e os EUA deverão anunciar uma posição conjunta sobre educação e tecnologia a ser levada por Clinton e FHC à cúpula de Santiago, Chile, em abril de 98.
Conselho de Segurança
Outros itens da agenda de conversas entre os dois presidentes serão questões internacionais, como problemas da África austral, as desavenças entre Peru e Equador, a situação no Paraguai. O Brasil poderá levantar o tema da possibilidade de aproximação entre Mercosul e África do Sul, o que não deve agradar muito aos EUA.
A ampliação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas também será um assunto quase certo, embora não se espere nada de novo em relação a ele. Os EUA vão manter sua posição de que cabe aos países da América Latina escolher quem vai representá-los no conselho ampliado e se essa vaga será permanente (como quer o Brasil) ou rotativa (como prefere a Argentina).

Texto Anterior: Kissinger teme atrito entre EUA e Mercosul
Próximo Texto: Casa Branca não define roteiro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.