São Paulo, quarta-feira, 8 de outubro de 1997
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Por 30 minutos, pai deixa de ver filho morrer

MARCELO OLIVEIRA; RITA NAZARETH
DA REPORTAGEM LOCAL

Por trinta minutos, o pai do estudante Eduardo Fernandes da Costa, 17, única vítima fatal do acidente que estava na passarela, não presenciou a morte do filho.
Eduardo morava com o pai, Ednaldo Fernandes da Costa mãe e a irmã de 10 anos na rua Caracaru, no Jardim Cumbica, bairro onde ocorreu o acidente. Na rua, ele era conhecido como Dudu.
Todos os dias, ele atravessava a passarela às 5h30 para ir até o bairro Parque Novo Mundo, em Guarulhos, do outro lado da Dutra, onde trabalhava numa fábrica de etiquetas.
À noite, Eduardo cursava o terceiro ano do 2º grau em uma escola do Jardim Cumbica.
Segundo o tio de Eduardo, Rivaldo Vicente de Freitas, 52, meia hora depois do filho, Ednaldo saiu para trabalhar. Assim como Eduardo, ele também tem de passar todos os dias pela passarela.
Segundo Benvinda Lins e Souza, 55, vizinha da família de Eduardo, o pai dele chegou à passarela meia hora depois e ajudou na remoção do corpo do filho, já que nada mais podia ser feito para salvá-lo. O jovem morreu no local do acidente.
Benvinda conta que Eduardo era amigo de seu filho e que outros dois colegas deveriam estar com o rapaz na hora do acidente.
"Eles dormiram, perderam a hora e o Dudu foi sozinho", contou Benvinda, cujo filho mais velho era amigo do rapaz.
Mesmo com a família em estado de choque, segundo Freitas, o pai de Eduardo foi até o IML de Guarulhos reconhecer o corpo do filho e tomar as providências para o enterro do estudante.
PMs
Duas das vítimas fatais do acidente ocorrido ontem na via Dutra eram policiais militares que estavam indo para o trabalho.
O sargento José Gomes de Andrade, 33, e a PM Simone Néri da Silva, 22, saíram do bairro de Aracília, em Guarulhos, onde moravam, e estavam se dirigindo a um batalhão no centro de São Paulo. De lá iriam fazer a ronda.
Ao perceber o acidente na via Dutra, o sargento Andrade tentou desviar da passarela caída na pista.
Ele foi prensado pela carreta que vinha logo atrás e ficou preso nas ferragens.
Pernambucano de Custódia, Andrade era o único homem de uma família de oito filhos.
Como ele, três de suas irmãs vieram tentar a vida em São Paulo. "Mas o José nunca se esqueceu de nossos pais lá do Nordeste", diz Rita Maia de Andrade, 38. "Mesmo passando por dificuldades financeiras ele ajudava nossos pais todo mês", afirma a outra irmã, Marlene Maia Andrade, 29.
Casado pela segunda vez, Andrade tinha quatro filhos. Sua segunda mulher está no sétimo mês de gravidez.
Segundo apurado no local, o motorista do frigorífico Nobre, Tiago André Rossi, 24, estaria sozinho no caminhão. Ele não teria conseguido frear e bateu contra o Gol e os restos da passarela.
Até o fechamento desta edição, a polícia ainda não havia conseguido apurar em que veículo envolvido estava o último morto identificado, José Petrônio Barbosa Pacheco, 40.
(MO e RN)

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