São Paulo, quarta-feira, 8 de outubro de 1997
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Sérgio Motta critica as grandes potências

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A FOZ DO IGUAÇU

O ministro das Comunicações, Sérgio Motta, fez ontem um duro discurso contra a política de telecomunicações dos Estados Unidos, França, Alemanha e Inglaterra e anunciou que o Brasil é candidato ao posto de vice-secretário-geral da UIT (União Internacional de Telecomunicações), da Organização das Nações Unidas. O órgão regula o mercado internacional das telecomunicações.
Motta criticou a lentidão da privatização das telefônicas estatais Deutsch Telecom (Alemanha) e France Telecom (França). Disse que a Inglaterra fez uma abertura de mercado "fajuta", já que a ex-estatal British Telecom continua controlando 80% do mercado.
O ministro afirmou também que os Estados Unidos têm uma política liberal para fora, mas são protecionistas com o mercado interno.
Motta disse que vai propor um limite para a participação das estatais estrangeiras na privatização do sistema Telebrás. Qualificou a France Telecom de "paquiderme burocrático" e declarou: "Estatal por estatal, prefiro a Telebrás".
O ministro fez tais declarações em discurso no 4º Semint (Seminário Internacional de Novas Tecnologias e Serviços de Telecomunicações), promovido pela Telebrás.
Criticou a France Telecom na presença de Serge Tchuruk, presidente mundial de um dos maiores conglomerados franceses, o grupo Alcatel, e anunciou a candidatura brasileira ao posto da UIT diante do atual secretário-geral do órgão, Pekka Tarjanne, que veio ao Brasil a convite da Telebrás.
Na avaliação de Motta, o Brasil tem direito ao cargo na UIT por estar cumprindo todos os compromissos que fez perante a comunidade internacional: fim do monopólio estatal das telecomunicações, abertura do mercado para entrada de novos concorrentes e privatização do sistema Telebrás.
O governo brasileiro já indicou até o nome para representá-lo na UIT: Roberto Blois, funcionário de carreira do Ministério das Comunicações, que hoje ocupa o cargo de secretário-executivo da Comissão Interamericana de Telecomunicações, da OEA (Organização dos Estados Americanos).
O ministro disse que a candidatura do Brasil foi encaminhada formalmente à UIT há mais de um ano pelo ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia. "Vamos rechaçar candidaturas de outros países, pois achamos que seria oportunismo político."
Pekka Tarjanne deu uma resposta diplomática. Disse que a eleição da nova diretoria -secretário-geral, vice-secretário-geral e três diretores- só ocorrerá em outubro ou novembro do ano que vem e que envolverá 188 países.
Tarjanne afirmou que, seguramente, surgirão outros candidatos. Depois de deixar claro que ele não vota, desejou "boa sorte" ao governo brasileiro. Em tom de brincadeira, o ministro disse que Tarjanne controla "uns quarenta votos".
Tucano
O ministro defendeu a política de telecomunicações do governo FHC e provocou risos da platéia ao afirmar que o modelo brasileiro não será tão aberto à competição quanto o chileno, nem tão fechado quanto o inglês. "Optamos por uma solução tucana, em cima do muro. De cima do muro, pode se ver a situação dos dois lados."
Segundo Motta, o processo de privatização do sistema Telebrás já começou e até o final do ano as 27 subsidiárias de telefonia fixa serão organizadas em três diretorias regionais. A reestruturação, diz ele, segue o modelo de privatização aprovado pelo governo, no qual as teles serão agrupadas em três macroempresas regionais.

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