São Paulo, quarta-feira, 8 de outubro de 1997
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Recuso crer que dependência da Internet seja doença

HELEN GAVAGHAN
DA "NEW SCIENTIST"

Basta. Eu simplesmente me recuso a acreditar que a dependência da Internet é uma nova perturbação clínica. No entanto, Kimberly Young, uma professora-assistente de psicologia da Universidade de Pittsburgh, Pensilvânia, colocou um ensaio na rede sobre o assunto.
"Evidências anedóticas", diz Young, "sugerem que os usuários on line estão se tornando tão dependentes quanto os viciados em drogas ou álcool." Young deveria passar algum tempo em um centro de desintoxicação antes de escrever uma linha como essa. É verdade que ela sustenta seu argumento usando a definição da Sociedade Psiquiátrica Americana para a dependência química. Mas eu não estou convencida.
Se você pensa que passa tempo demais com Lycos e Yahoo, e as noções de Young o levam a buscar um pouco de terapia, meu conselho é que não o faça. Você acabará pagando mais para o seu terapeuta do que para o seu provedor.
Em vez disso, seja um pouco mais indulgente consigo mesmo. Escolha um site de procura da sua preferência e digite "Internet e dependência". Em meio aos avisos fervorosos dos terapeutas, você encontrará algum humor. "Você está viciado", afirma uma página das mais zombeteiras, "quando, de dia, você só pensa em como conseguir uma conexão mais rápida com a rede... e, de noite, até os seus sonhos são em HTML".
Depois de ler a dissertação de Young e a seção de humor da página Yahoo, eu não sabia se ficava exasperada com os terapeutas ou entretida pelos humoristas.
Havia apenas uma solução -mergulhar profundamente na minha própria dependência. Apenas mais um clique, pensei. Mas aí eu não conseguia parar. Tudo o que importava era a próxima página de Internet. Por acaso, eu encontrei um estudo da Universidade de Ontario do Oeste. Talvez isso pudesse me ajudar a entender o que estava acontecendo.
Li: "Quando as pessoas se ligam na Internet por períodos prolongados de tempo, elas estão escapando da realidade, estão esmiuçando uma cultura que não possui limites nem existência real".
Olhei apreensiva para os livros acumulados no meu quarto. Lembrei-me de quantas vezes eu fiquei acordada até as três horas da manhã ardorosamente virando páginas e da minha expressão fatigada no dia seguinte. Esses livros criaram para mim um mundo sem limites no espaço e no tempo. Eu deveria procurar ajuda?
Talvez, pensei, o artigo sobre psicologia e dependência da Internet pudesse resolver a questão. Nele aprendi que muito dessa dependência pode ter raízes na infância.
O autor explicou o conhecido e importante argumento de que adultos, maltratados na infância, praticam a mesma violência como meio de apaziguar seus sentimentos infantis de desamparo. Em seguida, o autor escreve: "A transferência ocorre quando essa pessoa, já adulta, demonstra raiva contra o seu computador por ele não se comportar como ela queria."
Tendo lido o texto, decidi que os humoristas contribuíam muito mais com a discussão da Internet e sua dependência do que os terapeutas. Também cheguei à conclusão de que não há nada como vício da Internet.
Estou feliz por algumas pessoas passarem horas coladas na tela do computador. Aceito que algumas sejam tímidas, excêntricas e até anti-sociais e que encontram conforto na rede. Mas o que há de errado em ser excêntrico? Eu duvido que isso justifique uma sessão no sofá de um psicanalista.

Tradução de David Hopkins

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