São Paulo, quarta-feira, 8 de outubro de 1997
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Saiba o que foi o regime pró-nazista de Vich

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

São 12h52 de 15 de outubro de 1945. No pátio central da prisão francesa de Fresnes é fuzilado o todo-poderoso ex-primeiro-ministro Pierre Laval, 62.
A notícia, transmitida pelas emissoras públicas de rádio, é comemorada nos gabinetes do Governo Provisório, chefiado por Charles de Gaulle. A honra nacional começava a ser lavada.
O marechal Philippe Pétain (1856-1951), que fora chefe de Estado, sofreria condenação idêntica, mas sua pena foi comutada em prisão perpétua. Ele morreria degredado na ilha d'Yeu.
Pétain e Laval foram as pedras de toque do Regime de Vichy, denominação oficiosa do governo francês durante a Segunda Guerra Mundial.
A percepção da população francesa sobre o que realmente ocorreu na época foi falseada pela figura de Pétain, herói nacional da Primeira Guerra, comandante vitorioso da decisiva batalha (contra a Alemanha) em Verdun.
Era difícil conceber que alguém com seu porte patriótico pudesse fazer o jogo do inimigo. Os franceses foram passivos. A Resistência foi obra de uma pequena minoria comunista ou gaullista.
Com a ocupação pelas tropas do Terceiro Reich de metade do território francês -inclusive Paris-, instalou-se no balneário de Vichy um governo que deveria encontrar um modo de convívio com Hitler.
A República Francesa deixou de existir. No lugar dela, surgiu o Estado Francês, fundamentado no ideário da extrema-direita nacionalista, que havia perdido a hegemonia política para a frente de partidos de esquerda nas eleições legislativas de 1936.
Os "nacionalistas" suspendem o direito de greve, colocam na ilegalidade os partidos, passam a cultuar a pátria e a família e oficializam uma política de perseguição aos judeus.
A Alemanha permitia que Vichy tivesse vontade própria em questões apenas cosméticas, como a não-exigência, na zona controlada por Pétain, de os judeus usarem costurada à roupa uma estrela de Davi amarela.
"Eu desejo a vitória da Alemanha, porque, sem ela, os bolchevistas tomarão conta de toda a Europa", diria Laval em 1942.
Essa política de "colaboração" (o termo está num dos primeiros discursos de Pétain) se traduz por alguns números eloquentes.
Vichy deportou 222 mil pessoas para a Alemanha, 83 mil por questões "raciais" e 65 mil por motivos políticos. Para substituir nas fábricas alemãs os operários que serviam o Exército, 153 mil franceses foram enviados como "voluntários" aos territórios do Terceiro Reich nos dois primeiros anos da guerra.
Em 1944, a produção industrial francesa era a metade que a de 1939. Mesmo assim, um terço era confiscado por Berlim ou integrado a seu esforço bélico.
As milícias de Vichy faziam o trabalho sujo para os alemães, como prender judeus, ciganos ou comunistas que seriam deportados.
O governo estimulava por debaixo do pano até a criação da Divisão SS Carlos Magno, de voluntários franceses que combateram sob o comando do Terceiro Reich.
Eram direta ou indiretamente subordinados a Laval, os "colabôs", que foram julgados e fuzilados na clandestinidade pela Resistência. Foram de 9.000 a 105.000, segundo estimativas díspares.

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