São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997
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Petrobrás testa o mercado

CELSO PINTO

A Petrobrás está de volta ao mercado internacional para captar US$ 350 milhões em eurobônus. Duas razões tornam esse lançamento especialmente interessante: o prazo e a comissão cobrada pelo banco que está organizando a operação.
Pela primeira vez alguém que não a República do Brasil vai buscar dinheiro a um prazo superior a dez anos. A emissão será dividida em duas. Uma parte, de US$ 200 milhões, será em dólares e com prazo de 20 anos. Outra, em liras italianas, será o equivalente a US$ 150 milhões com prazo de dez anos.
Com isso, a Petrobrás vai testar o mercado de 20 anos, algo que o Banco Central estava pensando em fazer. Hoje existem papéis brasileiros com prazo de dez anos, e o bônus global da República com prazo de 30 anos, mas nada entre eles. A Petrobrás já havia sido, no ano passado, pioneira no lançamento de bônus com prazo de 10 anos, e a primeira a abrir o mercado interno japonês, com bônus "samurai".
Outro fato interessante nesse lançamento é a baixa comissão cobrada. A emissão em dólares será liderada pelo Citibank, e a em liras, pelo Chase. Ambos ganharão uma comissão de 0,65%.
A taxa é especialmente baixa no caso do Citi, em função do prazo longo. Há um ano, era raro uma empresa pagar menos de 1% de comissão. A própria Petrobrás pagou 0,75%, no ano passado, quando lançou seu papel de dez anos. Quanto maior o prazo, maior a comissão, porque são operações mais complexas e porque o prazo dilui o custo anual da comissão.
"É concorrência de cortar a garganta", diz um banco europeu. É um sinal claro de que o mercado continua muito líquido e cada vez mais competitivo. A operação da Petrobrás interessa porque é de grande porte e de boa visibilidade. Existe uma corrida entre os bancos internacionais por posições de liderança no total de emissões latino-americanas, e ela se acirra no final do ano.
A operação da Petrobrás vai ser um teste interessante, também, em relação ao custo. O mercado mede o custo de bônus internacionais usando o rendimento dos papéis do Tesouro americano como base de comparação e medindo o prêmio pago em pontos básicos de porcentagem (cada 100 pontos básicos equivalem a um ponto percentual).
A meta da Petrobrás é colocar os papéis de 20 anos com prêmio inferior a 300 pontos básicos, e os papéis de dez anos, a menos de 200. Os papéis de dez anos da Petrobrás estão pagando hoje um prêmio de 284 pontos básicos, enquanto um papel de dez anos do BNDES está pagando 300. Os bônus da República de 30 anos, por sua vez, estão pagando um prêmio de 354 pontos básicos.
A Petrobrás, portanto, quer colocar seus papéis de 20 anos pagando um prêmio parecido com o de seus papéis de dez anos e bastante inferior aos dos papéis da República de 30 anos. A aposta da Petrobrás é que o investidor não exigirá uma diferença de rendimento significativa para esticar o prazo em dez anos, embora o risco aumente.
De fato, um exercício feito pelo banco ING Barings sobre a curva de juros dos papéis brasileiros mostra isso. O prêmio pago por estatais brasileiras dá um salto do prazo de um para cinco anos, depois sobe mais suavemente. Considerando o que pagam hoje papéis de estatais existentes e projetando para 20 anos, o prêmio ficaria em torno de 300 pontos.
A Petrobrás tem mantido uma tradição de pagar prêmios menores do que a própria República do Brasil. Uma razão é a convicção do mercado de que, se houver uma moratória no país, a última conta que deixará de ser paga será a do petróleo, porque é vital.
Outra razão é que, além dos fundos internacionais que aplicam em mercados emergentes, a Petrobrás atrai também fundos especializados em petróleo e gás. Para esses fundos, o relevante é saber que a Petrobrás, apesar das mudanças na lei, continuará dona dos 8 bilhões de barris em reservas comprovadas que tem hoje.
Sem contar as empresas de países exportadores de petróleo, a Petrobrás é a terceira maior do mundo em reservas (depois da Exxon e da Shell), mas só a décima em produção. Quer dizer, pondo dinheiro, o retorno está garantido.
O teste dos papéis de 20 anos dirá se o princípio continua valendo.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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