São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997
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CCJ absolve deputados acusados de apoiar reeleição por R$ 200 mil

LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os deputados Chicão Brígido (PMDB-AC), Osmir Lima (PFL-AC) e Zila Bezerra (PFL-AC) -acusados de terem recebido R$ 200 mil para votar a favor da emenda da reeleição- foram absolvidos ontem na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara e vão manter seus mandatos.
O relator do processo, deputado Nelson Otoch (PSDB-CE), propôs a cassação dos mandatos dos três deputados por quebra do decoro parlamentar, mas foi derrotado em três votações diferentes.
Chicão e Zila foram absolvidos por 28 votos contrários ao relatório de Otoch, 19 favoráveis, 3 abstenções e 1 voto em branco -de Osmir, que é membro da CCJ. Osmir foi absolvido por 30 votos contrários ao relatório, 17 favoráveis, 3 abstenções e 1 voto em branco.
Suposição
"Foi um resultado justo. A denúncia se baseava numa suposição irresponsável", disse Chicão.
"Essa decisão reflete um sentimento de Justiça. Não há prova nenhuma", disse Osmir, que chorou quando o presidente da CCJ, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), anunciou o resultado.
Osmir disse que não vai concorrer nas próximas eleições. "Eu estou decepcionado. Vou para casa cuidar dos meus netos. Todos crescidos e bonitos. Eles saíram à avó", afirmou o deputado, que tem seis netos.
O deputado Adhemar de Barros Filho (PPB-SP) foi escolhido para fazer o relatório final do processo, que vai incluir o resultado da sessão de ontem.
A proposta da CCJ ainda será votada no plenário da Câmara, que tem poderes para decidir de forma diferente. O plenário pode até mesmo decidir pela cassação dos mandatos dos três acusados.
Em gravações obtidas pela Folha, os ex-deputados Ronivon Santiago e João Maia dizem que receberam dinheiro para votar a favor da reeleição. Ronivon afirmou que Chicão, Osmir e Zila também venderam o voto.
Segundo Ronivon, os governadores Orleir Cameli (PFL-AC), Amazonino Mendes (PFL-AC) e o empresário Eládio Cameli (irmão do governador) participaram da compra de votos. Maia envolveu o ministro Sérgio Motta (Comunicações) na operação.
Decisão política
No relatório, Otoch disse que não conseguiu "provas diretas" para comprovar que os três deputados venderam o voto, mas somente "provas indiretas" -ligações com Ronivon, com Maia e com os irmãos Cameli.
"Com o agravante de todos serem do mesmo Estado", disse.
O relator pediu que a comissão tomasse uma decisão política. "Para que se configure a quebra do decoro, não é necessário que o deputado tenha praticado conduta tipificada pelo Código Penal."
Os deputados Mussa Demes (PFL-PI) e Roberto Jefferson (PTB-RJ) aproveitaram o trecho do relatório em que Otoch diz não ter "provas diretas" para defender a absolvição dos três.
"Não podemos entregar a cabeça, a honra e a dignidade de três parlamentares sem que tenhamos produzido as provas para condená-los", afirmou Demes. "Não há outro veredicto que não o da absolvição", completou.
Jefferson comparou as denúncias publicadas pelos jornais com a tortura de presos políticos durante os governos militares (1964-85). "As torturas antes eram físicas. Agora são na base da folha e da letra", disse.
Para ele, Otoch inverteu o ônus da prova. "Transferir para os acusados a responsabilidade de provar que são inocentes, para mim, é escandaloso", afirmou.
Durante o discurso de Jefferson, Zila Bezerra chorou. "Tudo o que tinha de dizer, já disse. Não estou aqui para pedir clemência, mas para pedir justiça", disse a deputada.
José Genoino (PT-SP), Sílvio Pessoa (PMDB-PE) e Jarbas Lima (PPB-RS) manifestaram-se a favor da cassação dos três deputados.
"Depois de dois mandatos como deputado estadual e federal, eu ainda me surpreendo com o espírito de corpo", disse Pessoa.

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