São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Jabaquara teve 'boom' de zonas de perigo

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A região da Administração Regional do Jabaquara, na zona sudoeste de São Paulo, foi a que apresentou o maior "boom" de áreas de risco segundo o relatório elaborado pela Coordenadoria de Urgências Urbanas e Áreas de Risco (Courge) da Secretaria das Administrações Regionais.
No relatório de 95, com os dados sobre deslizamentos e inundações ocorridos no verão 94/95, a região não apresentava nenhuma área de risco.
Na última listagem divulgada pela Courge, de 97, são 58 as áreas de risco. Em 34 delas, ocorreram inundações e nas outras 24, deslizamentos.
Um terço dos deslizamentos ocorreu, segundo o relatório, no bairro de Americanópolis.
Moradores
Um dos pontos problemáticos do bairro é a região da favela do Tanquinho, onde mora a aposentada Josefa da Silva Foca, 59.
A aposentada mora na rua Cabo Alfredo Clemente, 65, ao lado da casa 11, que está na lista das áreas de risco. Do outro lado, na casa 70, ocorreu um deslizamento em 92.
A casa dela foi interditada pela Prefeitura de São Paulo em novembro de 94, mas Josefa nunca deixou o imóvel, que vem sendo construído irregularmente há dez anos.
"Se você for a todas as casas da rua, todo mundo tem uma história para contar", diz Josefa.
Ela mesma tem várias. As paredes de sua casa estão com rachaduras e a construção, de alvenaria, se move para o fundo e para os lados.
"As fundações são ruins e, quando passa um caminhão carregado pela rua, a casa dá uma chacoalhada", conta o filho de Josefa, o desempregado Marcelo Foca, 27.
"A prefeitura já veio aqui e disse que a casa era de risco, mas eles não dão material para que a gente possa reforçar a casa. O que eu posso fazer, se ganho apenas R$ 120 da aposentadoria? O jeito é ficar", diz Josefa.
Casa afundada
Na casa ao lado, na rua Cabo Clemente, 70, a vizinha Ivone Felicidade de Oliveira Ribeiro, 42, aprendeu a lição.
"Estava na cozinha, mexendo o arroz, quando senti uma tontura repentina. Quando me dei conta, a casa tinha afundado, mas graças a Deus ninguém morreu."
A casa foi condenada e demolida em 92. No ano seguinte, ela iniciou a construção da nova casa, em que ainda falta o acabamento.
"Vieram técnicos ensinar como construir bem-feito, para não cair. Hoje a fundação é de prédio, tem 4,8 metros e sei que não vai desabar. Já estou 'escaldada' nesse assunto."

Texto Anterior: Relatório despreza regiões inseguras
Próximo Texto: 'Problema não aumentou'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.