São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Apesar de apoios, Pelé admite mudar

MARCELO DAMATO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

No dia em que recebeu mais apoios à sua proposta de nova legislação esportiva, o ministro dos Esportes, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, admitiu ontem, pela primeira vez, que se mexa nos artigos que são considerados centrais por ele no projeto.
O ministro fez ontem um périplo por Brasília, encontrando-se com as principais lideranças dos partidos, tanto da oposição como da situação, que terão importante função na discussão do projeto que tramita na Câmara dos Deputados(leia texto abaixo).
O projeto de lei Pelé, que tramita na Câmara dos Deputados desde o dia 17 de setembro, altera a regulamentaçÃo do esporte no Brasil, definida pela Lei Zico (de autoria do ex-jogador e atual dirigente de clube no Rio de Janeiro), que está em vigor desde fevereiro de 1993.
Os pontos
Os pontos centrais do projeto defendido pelo ministro do Esporte são os seguintes:
1 - A obrigatoriedade de os clubes virarem empresas ou de formarem empresas para gerir o esporte profissional;
2 - O fim do passe, após um período de transição;
3 - A fiscalização dos clubes e federações pelo Ministério Público;
4 - Regras eleitorais fixas nas eleições nas confederações.
Pelé ressalvou, entretanto, que não está negociando o fim do passe ou o clube-empresa.
O ministro afirmou ontem que aceita apenas propostas "que melhorem o texto."
Ele citou a proposta do deputado federal Tony Gel, do PFL pernambucano e relator do processo, de que o clube que forme o jogador tenha a preferência na assinatura do primeiro contrato profissional com o atleta.
"Acho que isso atende à preocupação dos clubes de perderem seus jogadores", disse Pelé.
Se essa idéia vingar, o clube formador poderá manter o jogador se aceitar cobrir a oferta feita por um outro clube.
Oposição
O ministro também falou com carinho de propostas de mudanças feitas pelos partidos de oposição ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso no Congresso (PT, PC do B, PSB e PDT), que tiveram um encontro com ele no final da manhã.
Esses partidos manifestaram apoio ao projeto.
Alguns dos membros da comissão indicados por eles, entretanto, sinalizaram que são contrários à maioria dos pontos centrais da lei Pelé.
O deputado Alexandre Cardoso (PSB-RJ) disse ser, por exemplo, contra a extinção do passe.
"O Duquecaxiense, que é o clube da minha região (Baixada Fluminense), consegue viver um ano com a venda de um jogador."
O deputado carioca também fez a defesa dos "bingos que funcionam bem".
Segundo ele, existe na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara a posição que o projeto extingue os bingos já existentes, mesmo que não exista nenhuma linha nesse sentido no texto.
"O direito não é simples. Uma coisa pode ser legal e ser inconstitucional", argumentou.
O deputado Carlos Santana (PT-RJ), por outro lado, afirmou ser contrário à obrigatoriedade do clube-empresa, ou seja, de que o clube se estruture como uma empresa.
Torcedor do Vasco, ele também disse que é favorável ao passe, em certas circunstâncias.
Apoio de 90%
O maior apoio a Pelé veio do líder do PFL na Câmara, o deputado federal Inocêncio Oliveira (PE).
"O PFL é o partido das reformas. Fez as reformas do Estado, da administração, da Previdência e fará a do esporte", disse o parlamentar, que já ocupou o cargo de presidente da Câmara.
Segundo Oliveira, a "maioria absoluta" dos deputados de seu partido -que apóia o governo FHC- votará a favor do projeto, que "trará a moralização e a modernidade para o esporte."
"Uns 90% vão apoiar o projeto. Pode escrever", finalizou.
Apoio forte
Outro apoio importante conquistado pelo ministro Pelé em Brasília partiu do presidente da comissão que vai analisar seu projeto, o deputado Germano Rigotto (PMDB-RS).
Ele afirmou que "o país não pode ser contra a moralização do esporte."
Mas, com a comissão instalada, ficou evidente que a missão de Pelé será bastante difícil.
Vários deputados já se manifestaram contra os pontos centrais do projeto.
O deputado Marco Abi Chedid chegou a dizer que o regime de contrato e o passe eram a mesma coisa.
E que o Brasil só ganhou a medalha de ouro no vôlei brasileiro porque o "(então presidente da Confederação Brasileira de Vôlei, Carlos Arthur) Nuzman proibiu os principais jogadores de irem para o exterior".

Texto Anterior: Jogo fica sem TV ao vivo
Próximo Texto: Presidente da comissão articula fim da urgência
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.