São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997 |
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Algo já mudou
MATINAS SUZUKI JR.
Tem clube, por lá, faturando na casa dos US$ 30 milhões por temporada. Enquanto isso, nem a seleção brasileira, que faz hoje mais um daqueles inexplicáveis jogos de carisma zero, sem interesse e validade alguma, consegue sensibilizar o torcedor de localidades onde ela deveria ser atração máxima. O receituário brasileiro segue, com algumas variações, o receituário italiano. O que está dando certo por lá (a rigorosa fiscalização sobre as finanças dos times) é encarado, ridiculamente, por aqui, como intervenção estatal no esporte. Deputados do nosso combativo Congresso dizem que é preciso colher o depoimento de muita gente para formar uma opinião sobre a lei Pelé. Parece que o país não existe para esses parlamentares, que eles nunca tiveram a oportunidade de ver os estádios vazios, que eles não sabem que a Receita Federal está encontrando verdadeiros escândalos na vida dos jogadores e dos clubes, que eles não têm a mais remota idéia sobre a exportação em massa de jogadores brasileiros para o exterior -justamente para tornar mais atrativos os campeonatos italianos e espanhóis da vida... Em que país estarão vivendo esses "ilustres" representantes dos cidadãos brasileiros? Será que eles nunca olharam para o futebol local? Será que estão não só alheios ao seu país, mas também ao seu tempo e não percebem as profundas mudanças pelas quais todo o esporte, superprofissionalizado, passa nos países mais avançados? Será que eles não percebem que os formadores de opinião já começam a arrastar o resto da sociedade para a tese da mudança profunda na estrutura do futebol -e que só aquele resíduo arcaico dos administradores que se locupletam pessoalmente, enquanto destroem os times e os clubes, é que está interessado na manutenção da atual conjuntura? Será que o Congresso brasileiro vai pagar o mico de mais uma vez ficar na contramão da história? Será que o Congresso brasileiro não percebe que, da arrogância e certeza total na imutabilidade do processo que caracterizava a atitude desses senhores, nasceu um ar grave de preocupação -preocupação fundamentada na suspeita de que eles já não encontram mais, nem nos mais comprometidos órgãos da imprensa, o eco tradicional para a sua malfadada causa? Será que o Congresso não percebe que Havelange começou falando alto e grosso e, agora, procura o diálogo, a audiência com o presidente da República? Pelé já teve uma vitória. Colocou a preocupação com o futebol na agenda política brasileira -até então, esse assunto era tratado preferivelmente às escondidas. Ele pode parecer ingênuo, pode parecer novato na política, mas foi lá, deu a cara para bater, falou com o Executivo, falou com o Congresso, empurrou o tema para a ordem do dia. Alguma coisa já mudou... E vai mudar mais. Texto Anterior: Prejuízo; Organização; Alpinismo Próximo Texto: Marcelinho aciona 'jeitinho' corintiano Índice |
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