São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997
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Braga faz mosaico dos dramas da nossa época

ROGÉRIO HAFEZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Rubem Braga é o maior cultor da crônica moderna no Brasil, e o único autor brasileiro a obter projeção unicamente como cronista. As crônicas, que escreveu até o fim da vida, o fizeram famoso desde a década de 30, quando a militância socialista o opôs ao Estado Novo de Getúlio Vargas.
A crônica moderna é filha do jornalismo, atividade que sempre ocupou o escritor, levando-o a viajar pelo Brasil e pelo exterior, como repórter e comentarista político. Grande observador, Braga compôs, com suas crônicas, um mosaico dos dramas de nossa época, e foi mestre em revelar o aspecto significativo e permanente de eventos cotidianos, triviais. É o que se destaca nesta coletânea de trinta e nove crônicas, de diversos momentos do escritor. Pode-se chamá-las de "contos" pelo fato de, na literatura brasileira marcada pelo Modernismo, a crônica ser quase sempre um ponto de partida para curtas criações ficcionais, que derivam livremente para o conto e a prosa poética.
Braga assimilou muitas conquistas dos primeiros modernistas. Próximo da linguagem oral, o estilo de suas crônicas recorda a poesia coloquial, "simples e despojada", de Manuel Bandeira. Esse é um fator da unidade de suas crônicas, consideradas crônicas poéticas. Nelas, o "eu" que narra e descreve também reflete liricamente, de um modo subjetivo e emotivo, sobre a sua experiência, a passagem do tempo e dos seres, os momentos mais densos que viveu. O próprio narrador é, desse modo, a personagem principal das crônicas. Como contista, ele lembra o "contador de causos", o narrador oral que inspirou algumas das criações mais originais de nosso modernismo e pós-modernismo (Macunaíma, Grande Sertão: Veredas).
Estas crônicas são muito variadas quanto à técnica narrativa, mas podem ser agrupadas segundo os principais temas, simples e pouco numerosos, e que surgem isolados ou associados: a infância em Cachoeiro de Itapemirim ("Praga de Menino"); o amor e a sensualidade em várias idades e situações ("Encontro", "Os Amantes"); a dor pelo próximo e a militância socialista ("Os Perseguidos"); a fuga da cidade e a busca da natureza ("O Mato"); o fantástico e o maravilhoso ("Marinheiro na Rua"); o momento de uma epifania, uma revelação, na vida da metrópole moderna ("Visão"). O tom das crônicas é variado e mesclado, indo da seriedade engajada à ironia bem-humorada. Tudo isso faz o encanto das crônicas de Rubem Braga, que, segundo um crítico, são documentos preciosos para a reconstituição de "uma civilização tropical perdida: o Brasil dos anos 40 a 80".

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