São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Atenção: aqui vem o repórter júnior Dave

DAVID DREW ZINGG
EM SAMPA

"Errar é humano, mas é preciso um computador para realmente pisar no tomate."
"The Farmer's Almanac"

Na semana passada tio Dave finalmente ganhou seu distintivo de repórter júnior.
Na quinta-feira passada, esta coluna lançou um aviso sério sobre o desastre que se prepara para acometer o mundo incauto quando o relógio marcar a meia-noite do último dia de 1999.
No meu bar de esquina favorito, as risadas dos descrentes soaram altas. "Me dá um tempo, cara -pára de contar essas piadinhas digitais idiotas", disse um chopeiro.
Quatro dias depois, na segunda-feira desta semana, a mais venerável das revistas semanais de notícias do mundo, a "The Economist", confirmou o aviso lançado por tio Dave.
Ali, brilhando em sua capa, estava a manchete: "Confusão do 'Bug' do Milênio -Por Que as Grandes Tecnologias Causam Grandes Erros".
Minha alegria de repórter foi calada por um respeitado editor de Sampa, que me fez observar que a revista brasileira "Exame" também havia colocado o "bug" do ano 2000 numa de suas capas recentes -antes da coluna da semana passada.
"São boas revistas, a 'Exame' e a 'The Economist"', respondi, "mas vá conferir o caderno Ilustrada da Folha depois do réveillon, dez meses atrás".
Ali estava o título desta coluna há quase um ano, em 2 de janeiro de 1997: "Réveillon de 1999 será de terror para computeiros".
Como a da semana passada, a coluna lançava um aviso precoce sobre os danos graves que aguardam a parte do mundo que depende dos computadores.
Novo uso para modems
Agora que já assumimos a dianteira, vejamos como essas duas grandes publicações vão interpretar o seguinte artigo importante que encontrei no meu jornal favorito do Minnesota, "The Onion".
Ontem, numa iniciativa saudada por executivos da IBM como importante avanço na revolução mundial das telecomunicações que a empresa está promovendo no mundo, M'wana Ndeti, integrante da tribo banto do Zaire, utilizou um modem de ligação com a rede mundial, produzido pela IBM, para quebrar uma noz.
Depois de passar 20 minutos tentando quebrar a noz com as mãos, Ndeti a abriu com golpes sucessivos do poderoso modem.
"Não consegui esmagar a noz sozinho", disse Ndeti, 47, que, minutos depois, acrescentou a noz a uma sopa salgada espessa, à base de amendoins. "Mas consegui abri-la com a ajuda da IBM."
Ndeti encontrou o modem quebra-nozes 28,8 V.32 ontem, quando a IBM filmava um comercial em sua aldeia, situada no sudoeste do Zaire.
Durante uma pausa nas filmagens, que mostram habitantes da aldeia africana fazendo videoconferências por computador com alunos de uma escola japonesa, Ndeti entrou no set sem ser visto e pegou o modem, que, segundo previu, seria muito útil como utensílio "esmagador".
Os representantes da IBM não se surpreenderam ao saber que sua empresa, gigante no setor de informática, havia oferecido a Ndeti uma solução prática para um dos problemas de seu cotidiano.
Características poderosas
Segundo Ndeti, entre as muitas qualidades poderosas do modem, a mais impressionante é o material duro em que ele é envolto, que resistiu facilmente a vários minutos de choques vigorosos contra uma pedra grande.
"Pus a noz em cima de uma pedra e bati nela com o modem", contou Ndeti. "O modem não quebrou. É um bom modem."
Ndeti ficou tão impressionado com o modem que comprou um novo e moderníssimo sistema completo da IBM, incluindo microprocessador Power PC 601, um drive interno de CD-ROM de velocidade quádrupla e três conectores de rede de 16 bits.
O banto já fez bom uso do sistema computadorizado.
Ele montou uma armadilha para capturar gazelas com os fios do sistema, uma âncora para barcos com o monitor, e usou o mouse para criar uma arma grosseira, porém eficaz.
"Este é um bom computador", disse Ndeti, trinchando uma gazela recém-capturada com o processador interno do computador, de formato plano e afiado. "Estou usando todas as partes dele. Vou assar essa gazela em cima do teclado."
Horas mais tarde, Ndeti complementou seu jantar delicioso à base de gazela com o manual do computador, de 200 páginas, defumado. Os porta-vozes da IBM elogiaram a escolha de Ndeti em matéria de computador.
"Ficamos satisfeitos em saber que o povo banto está recorrendo à IBM para satisfazer suas necessidades de trabalho", disse um assessor de imprensa da empresa. "De Timbuctu a Kinshasa, estamos provendo o mundo de novas ferramentas. Nossa tecnologia de vanguarda está realmente criando uma aldeia global."
Demonstrando a confiança que sente nas novas ferramentas computadorizadas, Ndeti já fez um pedido de várias dúzias de novos "workstations" caros.
"Daqui a pouco vai começar a temporada das gazelas", explicou. "Há um limite ao número de gazelas que dá para preparar com cada computador, antes que ele fique desgastado."

Tradução de Clara Allain.

Texto Anterior: Stones devem vir em abril
Próximo Texto: Festival reforça sua dose de... jazz
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.