São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997
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Festival reforça sua dose de... jazz

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Paulistas e cariocas fanáticos por jazz devem estar animados. A 12ª edição do Free Jazz Festival, que começa hoje, é a mais jazzística dos últimos cinco anos.
Nomes como o da Mingus Big Band, Lee Konitz, Dee Dee Bridgewater, Pharoah Sanders, Cyrus Chestnut ou Kenny Garrett têm qualidades musicais e carisma capazes de atrair fãs do gênero em qualquer canto do planeta.
Não se trata de uma mudança radical. As presenças de popstars como Elvis Costello e a banda Jamiroquai, ou blueseiros como Otis Rush e Ronnie Earl, mostram que o Free Jazz continua tão eclético como nos últimos anos.
Mais do que uma opção estética, nos dias de hoje, essa é uma necessidade econômica. Outros importantes festivais do gênero, como o JVC (Nova York), se renderam à nova realidade. Concertos de jazz raramente lotam grandes salas.
Isso não é argumento, no entanto, para que os festivais de jazz deixem de existir. Trata-se de procurar novos formatos e espaços para veicular a música, sem necessidade de apelações comercialóides.
O exemplo do último Montreux Jazz Festival (Suíça) chegou a ser patético. Incluir o Tchan de Carla Perez no programa de um evento tão influente mostra que o ecletismo pede certos limites musicais.
Depois das edições de 94 e 95, nas quais o jazz entrou em pequenas doses, os organizadores do Free Jazz parecem ter compreendido que a opção por um megafestival, repleto de popstars e modismos passageiros, poderia acabar descaracterizando o evento.
O novo formato do Free Jazz, com shows simultâneos em espaços diferentes, demorou uma década para ser adotado, mas parece ter vindo para ficar.
Só essa fórmula pode garantir a presença de talentos da nova geração, ou mesmo de veteranos do jazz, que não conseguiriam lotar um teatro de 2.000 lugares, mas nem por isso deixam de ser essenciais num evento como esse.
No que toca ao jazz, as atrações desta edição formam um equilibrado painel de estilos.
O espectro é amplo: vai dos "spirituals", recriados com requinte pelo pianista Cyrus Chestnut, até o "free" (jazz de vanguarda), cultuado desde os anos 60 pelo saxofonista Pharoah Sanders.
O nervoso "bebop" e o intimista "cool jazz", que comandaram as inovações no cenário jazzístico entre os anos 40 e 50, têm no saxofonista Lee Konitz e no trompetista Art Farmer dois históricos representantes.
Educados no idioma moderno do "bebop", os saxofonistas Kenny Garrett e Donald Harrison são típicos jazzistas contemporâneos: não cultivam preconceitos em relação a fusões.
Outro talento da nova geração é o pianista panamenho Danilo Perez, que explora a fusão de "bebop" e ritmos latinos por meio da obra de Thelonious Monk.
A veia orquestral do jazz também está bem representada. Dirigida pelo pianista Marcus Roberts, a orquestra Rhapsody in Blue dialoga com o passado por meio das influências eruditas e das canções populares de George Gershwin.
A Mingus Big Band não só mantém viva como projeta para o futuro a expressiva música de Charles Mingus -radical mestre do jazz, admirado até por roqueiros como Elvis Costello, que é convidado da banda nos shows.
Os fãs do jazz vocal também poderão apreciar dois estilos diversos. Influenciada por Nat King Cole, a canadense Diana Krall é "mainstream" por excelência.
Já a exuberante norte-americana Dee Dee Bridgewater, apesar de não desprezar baladas e standards, soa mais moderna. Suas versões para o "funky jazz" de Horace Silver são arrasadoras. Enfim, um Free Jazz para quem gosta de jazz.

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