São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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'É justo que vereador colabore com o partido', afirma Enéas

IGOR GIELOW
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente nacional do Prona, Enéas Ferreira Carneiro, disse ontem que não vê nenhuma irregularidade na cobrança de dinheiro de eventuais candidatos a deputado estadual.
"É mais do que justo que um vereador eleito pelo Prona colabore com o partido", afirmou o cardiologista sobre Romeu Pepino, o vereador de Osasco que reclama da cobrança de R$ 7.000 para obter vaga de candidato a deputado estadual.
Ainda assim, determinou a formação de uma sindicância para apurar o caso.
Enéas veio do Rio para São Paulo para conceder entrevista coletiva sobre a revelação do esquema de cobrança e do ágio cobrado por pelo menos uma pessoa que tinha a vaga de candidato e pretendia repassá-la.
Ele aproveitou para anunciar a expulsão de Pepino do Prona, repetindo a consagrada prática partidária brasileira da punição do denunciante. "Ele é uma ovelha negra", resumiu.
Pepino disse achar "lamentável" a posição de Enéas, com quem tinha esperança de conversar. "Se ele me expulsar mesmo, vou processá-lo. Mas se eu tivesse R$ 7.000, pagaria", afirmou na tarde de ontem.
Tanto Enéas como o presidente do Prona-SP, Milton Melfi, negaram que a colaboração seja obrigatória. "Tem gente que só dá ajuda moral", disse Melfi.
Na última sexta-feira, Pepino ofereceu R$ 3.000 para tentar garantir uma vaga com Melfi. Ela foi negada.
Perguntado se o fato de o vereador ter oferecido uma quantia, ainda que inferior aos R$ 7.000, não o qualificaria para ganhar uma vaga, Enéas desconversou: "É ridículo. Não se faz isso com o partido".
Nem Enéas nem Melfi foram capazes de explicar seus critérios para a concessão de vagas a candidato. "Isso é interno, do partido", disse Melfi.
Enéas aproveitou a coletiva para criticar a imprensa, dizendo que ela só se interessa por denúncias contra seu partido.
Ele só condenou a oferta feita por Jorge Martinez, chefe de gabinete do vereador e "clone" do cardiologista Osvaldo Enéas.
Anteontem, na presença da Folha, Martinez havia dito que o candidato que representava estava disposto a ceder sua vaga por R$ 15 mil a Pepino.
"Isso não é uma atitude habitual", disse Enéas. Martinez não foi localizado ontem.
Durante a entrevista, Enéas pediu para a Folha se retirar da sala no Diretório Regional do partido duas vezes. Depois, disse que estava "com os ânimos exaltados". Gesticulava muito, mas só disparou sua tradicional metralhadora verbal uma vez.
Mais exaltado, o coordenador político do Prona, Luiz Pacces Filho, disse que o jornalista da Folha era um "criminoso" por ter gravado a reunião de anteontem sem se identificar.
(IG)

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