São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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Salve o privilégio

JANIO DE FREITAS

Nem refeitos ainda da surpresa de ver os militares atingidos, também, pela (provisória) perda da aposentadoria privilegiada, os senadores governistas entregaram-se logo, sob a iniciativa do declarado adversário-mor dos privilégios, a examinar os possíveis meios de restabelecer o benefício.
O senador Antonio Carlos Magalhães, mal acabada a votação, já falava em uma lei complementar para os militares voltarem a se incluir nas exceções denominadas aposentadorias especiais, no caso, por sinal, muito especiais. E logo era buscada alguma ressalva da Constituição que preservasse o privilégio caído. Antonio Carlos referiu-se até a um misterioso "dispositivo constitucional que contempla os militares" na questão de suas aposentadorias (ou reformas, como eles preferem).
Mais uma demonstração, portanto, de que nem há o propósito verdadeiro, no Congresso e no governo, de extinguir privilégios nem, tão pouco, o propósito de considerar a sério o problema indecente das aposentadorias, que não pode ser considerado no varejo, mas só por uma política geral. Muito engraçado, apesar de tudo, que o senador Antonio Carlos Magalhães acusasse os magistrados de fazer, em defesa da sua aposentadoria integral, "uma pressão como nunca se viu no Senado". Não esqueceu apenas do que tantas vezes aconteceu no Senado e na Câmara, no exemplo extremo, durante a ditadura. Esqueceu também que não tem outro nome, senão o de pressão, a carta que enviou a todos os senadores, como presidente do Senado, para votarem contra os magistrados e, sobretudo, a iniludível ameaça contida no aviso de que convocaria rede de TV e rádio, para "dizer ao país como foi que o Senado decidiu". Isso, sim, nunca se vira no Senado.
Doação
A nova copa conquistada pelo Brasil, como o país que mais elimina vegetação em todo o mundo, é um título merecido pelo atual governo e por seu presidente.
O novo recorde foi obtido com contribuição das concessões que estão sendo feitas a madeireiras asiáticas para retirada de madeiras nobres na floresta amazônica e suas adjacências.
Esse tipo de exploração florestal não atinge, porém, só as árvores de alto valor comercial. Para as localizar, derrubar, estocar e transportar pela floresta, são devastadas áreas imensas, em processo de desmatamento que, muitas vezes, faz a primeira abertura das áreas com o fogo, também usado na criação de pastos e ilegais. Como o noticiário tem exposto, a fumaça desse desmatamento está infernizando mais a vida em numerosas cidades amazônicas e, com frequência, impedindo o tráfego aéreo. Mas o governo conseguiu mais um reconhecimento internacional.
Questão aberta
Luís Inácio Lula da Silva volta a não querer candidatar-se a presidente. Com isso, a tranquilização relativa entre as correntes conflitantes do PT, conseguida em seu Encontro Nacional há dois meses, já está rompida nas instância de direção e de representação parlamentar do partido. A chamada esquerda do PT, que obteve no Encontro o adiamento, para o ano que vem, da discussão sobre o candidato -um modo de alijar outros nomes citados então e forçar o entendimento em torno do seu preferido, Lula- já reconsidera a sua tática. É o que se depreende da preparação de um ultimato, pelo qual exigirá de Lula que diga logo se aceita a candidatura ou se o partido deve começar já a discussão de outros nomes.

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