São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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Professora que puniu garoto se demite

ALTINO MACHADO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

A professora Luciana Costa, 23, pediu ontem demissão da escola Paraíso Infantil, de Manaus, quatro dias após ter colocado fita com cola, semelhante a uma fita crepe, na boca do garoto A.P.S., 4.
O motivo do castigo foi um beijo na boca dado pelo garoto em uma menina na escola, segundo denúncia registrada pelos pais no SOS Criança de Manaus.
A denúncia foi feita pelos pais do garoto, que ficaram indignados com a atitude da professora.
Luciana Costa, que se recusa a falar com jornalistas, informou também que sua demissão é em caráter irrevogável.
Os proprietários da escola, Paulo Serejo Corrêa, 47, e Eunice Lira Corrêa, 42, anunciaram que o menino A.P.S. não poderá mais frequentar as aulas.
O garoto já não comparece à escola desde a terça-feira, um dia após a punição que recebeu, por decisão dos pais dele, o empresário P.A.O.S., 44, e I.G., 23.
Os diretores, que são evangélicos e dizem frequentar uma igreja batista, afirmaram que vários pais teriam lhes telefonado com ameaças de retirar os filhos da escola, caso o garoto volte a frequentá-la.
"Só Jesus nos dá força para suportar a pressão que estamos sofrendo", disse Eunice Corrêa.
"Isso caracteriza mais um abuso contra meu filho", disse o pai, a respeito da proibição imposta pelos donos da escola.
A gerente do SOS Criança, Maria Leuma Cassiano, 45, informou que o caso ainda está sendo investigado e, posteriormente, ainda sem data definida, será remetido um relatório ao juiz Rafael Romano, do Juizado da Infância e da Adolescência de Manaus.
Castigo
O incidente ocorreu na segunda-feira, quando A.P.S. permaneceu todo o dia na escola por conta das atividades relativas à chamada "Semana da Criança."
Ele chegou às 8h e voltou para casa às 17h30, levado por uma tia de sua mãe, R.O.L., que trabalha como servente na mesma escola.
Por volta das 18h30, a mãe do garoto percebeu que ele estava com marcas de cola na boca e quis saber o motivo, segundo ela mesmo informou à Agência Folha.
"Ele me disse: 'Beijei minha amiguinha e a minha professora tapou minha boca e me colocou de castigo, para dormir"'.
I. disse que foi à casa de R. e esta lhe explicou que a professora havia dito, quando fora buscar A.P.S. na sala, que havia posto o garoto de castigo por ele ter beijado a boca de uma coleguinha.
Na mesma noite, os pais do garoto denunciaram ao SOS Criança e, no dia seguinte, a direção da escola confirmou o castigo aos assistentes sociais, ao mesmo tempo em que suspendia a professora por cinco dias.

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