São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997 |
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Para psicóloga, beijo de crianças é normal
ANDRÉ LOZANO
Para a psicóloga Miriam Chnaiderman, a atitude da professora foi "um terror". "É absolutamente normal uma criança dar um beijo em outra, mesmo que for um menino beijando outro", disse ela. "Não existe metodologia pedagógica segundo a qual tapar a boca de crianças seja adequada para corrigir distúrbios de comportamento", assinalou Maria Cassiano, do SOS Criança de Manaus. "Essa professora não é uma educadora, é uma doente. Ela vê fantasmas onde só tem sombras", declarou a psicanalista Ana Veronica Mautner, de São Paulo. "Se a criança beijou outra é porque ela viu essa cena na TV, em uma revista ou em um filme. Essa mulher (a professora) deveria usar a fita em suas mãos. Se a boca que beija merece fita gomada, a mão que censura também merece ser amarrada", disse a psicanalista. Para ela, uma criança de 4 anos "precisa de ternura e não de erotismo", referindo-se ao contato de meninos e meninas com programas televisivos, por exemplo. Ela não acredita que o caso gere traumas no garoto, "caso ele não sofra outros desajustes". "Se os pais o apoiarem, o garoto nada sofrerá", disse Ana Veronica. Para o educador Mario Sergio Cortella, ex-secretário municipal da Educação de São Paulo, o caso de Manaus "não é isolado e nem incomum". "Faz parte da cultura brasileira imprimir o castigo físico. Há 30 anos, a atitude dessa professora seria motivo de elogio. Mas, atualmente, a sua atitude foi incompreensível", disse Cortella. Para ele, a professora não deveria ser demitida, "mas ser reeducada". "A atitude foi cruel, se levarmos em consideração os novos tempos. Ela desrespeitou qualquer norma pedagógica. Ela não deveria ser poupada de punição, mas reorientada e não dispensada do mundo da educação. É preciso que mostrem para ela, claramente, o ato que ela produziu, para que ela seja informada", afirmou o ex-secretário da Educação. Segundo Cortella, a professora "adotou um procedimento anacrônico, mas não de má-fé". "Na Inglaterra, por exemplo, hoje em dia continua não sendo absurdo o uso da palmatória (peça circular de madeira com orifícios usada para castigar crianças, batendo-lhes nas mãos)", afirmou Cortella. "Isso não é educação, é domesticação", acrescentou. Colaborou Agência Folha Texto Anterior: Processos levam escolas exagerar no rigor Próximo Texto: Meu Guri ganha adesão da Metal Leve Índice |
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