São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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Paulistas obedecem a ex-zagueiros

ARNALDO RIBEIRO,
FÁBIO VICTOR
e LUIZ CESAR PIMENTEL

ARNALDO RIBEIRO; FÁBIO VICTOR; LUIZ CESAR PIMENTEL
DA REPORTAGEM LOCAL

Todos os oito times de São Paulo no Brasileiro são dirigidos por ex-defensores; fenômeno se alastra pelo Brasil

Joel Santana, Luiz Felipe Scolari, Dario Pereyra, Wanderley Luxemburgo, Edinho, Lula Pereira, Geninho, Cassiá.
Os treinadores dos oito times paulistas que disputam o Campeonato Brasileiro deste ano são todos ex-jogadores. Todos eles têm a mesma faixa de idade, entre 40 e 50 anos. Todos foram defensores enquanto jogaram.
O fenômeno não se restringe a São Paulo. Entre os 20 ex-jogadores que dirigem equipes no Brasileiro, 15 atuaram na defesa.
A tendência desperta uma justificativa quase unânime entre os "paulistas": jogando atrás, o atleta tem uma visão integral do campo. Assim, tem mais facilidade de compreender a tática de jogo e orientar os companheiros no gramado. Chegar a técnico seria uma consequência imediata.
"Lá atrás, a gente vê tudo", afirma o técnico do Corinthians, Joel Santana, que atuou em cinco times como zagueiro em sua carreira dentro do gramado.
Para o ex-quarto-zagueiro Edinho, hoje treinador da Lusa, a transformação de jogadores em técnicos segue um processo gradativo e "natural".
"Lá atrás, você começa a ver o jogo melhor. Um tempo depois, passa a liderar o grupo e ser o capitão. Rapidamente, já é o treinador dentro de campo. Mas só quando assume o cargo é que você vê a coisa imensa que é ser treinador", afirma Edinho.
"Estamos sempre de frente e, assim, cantamos as jogadas. É isso que o técnico precisa", completa o ex-quarto-zagueiro Luiz Felipe Scolari, técnico do Palmeiras.
Ele ressalta, porém, que mais importante do que a visão, é a capacidade de liderança do atleta. Característica que, segundo o treinador, independe de posição.
A afirmação é endossada pelo ex-goleiro Geninho, atualmente técnico do União São João.
"É fundamental ter tido instinto de liderança para virar técnico. Os que viram geralmente eram capitães de seus times."
Geração pós-70
Além de Edinho, que disputou três Copas do Mundo pela seleção brasileira, e do uruguaio Dario Pereyra, que defendeu a seleção do seu país, todos os demais treinadores tiveram carreiras de pouco ou nenhum destaque.
Alguns, como Scolari, jamais atuaram por clubes considerados grandes do cenário nacional.
Wanderley Luxemburgo ficou mais conhecido por ter sido reserva de Júnior no Flamengo.
Os oito técnicos fazem parte da geração que atuou entre as décadas de 70 e 80, época de profunda transformação no futebol brasileiro, quando a tática e o preparo físico ganharam importância.
Os grandes atacantes dessa era, Zico, Sócrates, Roberto Dinamite, Reinaldo, entre outros, não se arriscaram na carreira de técnico.
Números
O passado na zaga não reflete, necessariamente, uma postura de jogo defensiva atualmente.
A Lusa de Edinho, por exemplo, embora tenha uma das defesas menos vazadas do Brasileiro (19 gols), tem estilo de jogo ofensivo e um dos ataques mais positivos do torneio (36 gols).
O mesmo ocorre com o Palmeiras de Scolari (35 gols pró, 18 contra). "Por ser de uma escola de estilo defensivo (a gaúcha), tenho tendência a jogar um pouco mais atrás, mas minha maior preocupação maior é com os atacantes", disse Scolari.
Entre os paulistas, o Palmeiras de Scolari é o time que mais desarmes faz, 150,7 por jogo, e o que mais finaliza ao lado da Lusa de Edinho, 16,6 por partida, segundo o Datafolha.
Os paulistas que mais fazem falta são o Bragantino de Cassiá, 27,7 por jogo, e o Santos de Luxemburgo, 27,6.
Alegando questões "éticas", os técnicos evitaram fazer comentários sobre o trabalho dos companheiros, mas deixaram escapar algumas impressões.
"O Luxemburgo foi infeliz como jogador. Era um lateral promissor, mas se machucou muito. Acho que a carreira dele foi frustrante até para ele próprio", diz Edinho, que completa: "Dos treinadores em atividade hoje no Brasil, eu e o Leão (do Atlético-MG) somos os únicos que fizeram carreira forte como jogadores".

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